Cauditório do Hotel Fontainebleau de Miami está lotado.
No palco, Donald Trump, Vladimir Putin, Kim Jong-un e Temer.
Mais uma edição do encontro dos mais impopulares líderes do mundo.
Na plateia, políticos aspirantes à impopularidade vindos de mais de 150 países.
A ideia é que líderes de inquestionável impopularidade inspirem compartilhando suas realizações.
O mestre de cerimônias – Bashar al-Assad – pede que os presidentes iniciem as apresentações.
Trump é o primeiro.
Em seu powerpoint, detalha como vem construindo sua política xenofóbica.
Informa que já aprovou a verba inicial para a construção do muro na fronteira do México.
(Todos aplaudem, confirmando o brilhantismo da ideia)
Continua explicando a proibição de imigrantes de nove nacionalidades.
A apresentação termina bem-humorada com alguns twits do presidente ironizando os muçulmanos (o público se diverte a valer).
Termina a apresentação e a plateia aplaude com veemência.
O próximo é Putin.
Uma apresentação enfadonha.
A Rússia como conhecemos.
Corrupção, assassinato de dissidentes, invasão de países vizinhos.
Nada de novo.
A plateia aplaude por educação.
Chega a vez da principal atração: Kim Jong-un.
O líder norte-coreano é carismático.
Caminha lentamente até o palco e gira nos calcanhares, imitando um passo sem jeito de Michael Jackson.
A plateia adora.
Kim abre sua apresentação com um clip da Moranbong Band.
Explica que a banda é formada por mulheres e que a população foi levada a acreditar que ela é tão famosa no mundo quanto o U2.
Gargalhada geral.
– Nossa! Ele é muito do ramo… – cochicha Temer para Putin, que, invejoso, apenas responde com um gesto de cabeça.
Kim conta que mandou matar seu tio sob a alegação de que “sonhava sonhos diferentes”.
A audiência reage com um longo “Óóóóóóó” de admiração.
As luzes se apagam.
Um vídeo em que cidadãos da Coreia do Norte declaram que adoram Kim Jong-un como se fosse um deus encerra a apresentação.
Quando as luzes reacendem, Trump enxuga uma solitária lágrima furtiva.
A plateia aplaude de pé por quase cinco minutos.
Chega a vez de Temer.
Ninguém espera muita coisa.
Líderes latinos são sempre a mesma papagaiada.
Trump aproveita para ir ao banheiro.
Temer não levou sequer uma apresentação.
No meio do palco, dispara a gravação do Joesley legendada.
Por cima do áudio, explica:
– Inicialmente me reuni, em casa, com aquele que depois chamei de “o maior bandido da história do País”.
A plateia aplaude, surpresa com o descaramento.
– Depois fui inocentado por caixa dois em minha campanha eleitoral que teve comprovadas doações ilegais! – Temer não consegue conter uma risada, orgulhoso.
As palmas intensas mostram que Temer ganhou o público.
– E, finalmente – pausa dramática –, fui acusado de corrupção passiva, mas já acertei com o Congresso e a acusação será arquivada. Não vai nem para o STF.
Quando Trump volta do banheiro, Temer está sendo carregado nos ombros pela plateia, seguido de Putin e Kim Jong-un, humilhados.
Para as câmeras, Temer grita: “É nóis!!!” – dá uma gargalhada gutural e desaparece na multidão.

Chega a vez de Temer. Ninguém espera muita coisa. Líderes latinos são sempre a mesma papagaiada


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