Sem se dobrar, a oposição venezuelana voltou neste sábado às ruas de Caracas para protestar contra o presidente Nicolás Maduro, levantando a bandeira da liberdade de expressão, 10 anos depois do fechamento de uma emblemática emissora.

Aos 57 dias de protestos violentos, que deixaram 58 mortos, a oposição prevê intensificar a pressão contra o governo com novas mobilizações a partir da segunda-feira.

O fechamento da emissora RCTV por decisão do governo do falecido Hugo Chávez foi um “golpe atroz contra a liberdade de expressão”, disse Julio Borges, presidente do Parlamento, ao convocar a marcha neste sábado.

Com uma linha editorial contrária ao presidente socialista, a RCTV, fundada em 1953, era a emissora aberta de maior tradição e inserção na Venezuela.

Funcionários de alto escalão defenderam em 2007 a negativa de renovar a licença de operação da RCTV com uma política de “democratização” as telecomunicações. A emissora estatal TVES a substitui desde então.

“Ninguém sabe de nada. Temos que nos informar pelo Facebook e pelas redes sociais, pela Internet, por canais internacionais. E também tiraram a CNN do ar”, reclamou Matilde Quintero, aposentada, que marchava em Caracas com um boné com as cores de seu país: vermelha, azul e amarela.

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O sinal da CNN em espanhol foi tirado do ar por operadoras a cabo venezuelanas por ordem do governo de Maduro, que acusa a emissora americana de “propaganda de guerra”.

Segundo o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP), o fechamento da RCTV abriu o caminho para uma “política de censura e autocensura” em meios de comunicação privados.

Enquanto a mobilização opositora avançava, jovens com rostos cobertos bloquearam com caminhões a principal estrada da capital.

Na sexta-feira, manifestações em Caracas e em outras cidades foram reprimidas com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos de água. A oposição pediu à Força Armada que pare com a “repressão” e retire seu apoio a Maduro.

Governo e oposição se culpam pela violência. Maduro denuncia que seus adversários promovem “atos de terrorismo”, enquanto estes o responsabilizam por uma “repressão selvagem” de militares e policiais.

Os protestos, que exigem eleições gerais, ganharam força com o chamado de Maduro a uma Assembleia Constituinte com votações por “setores sociais”, o que analistas e opositores consideram uma manobra do presidente para evitar o voto universal e se manter no poder.


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