A oposição venezuelana descartou nesta quarta-feira uma retomada do diálogo com o governo do presidente Nicolás Maduro, congelado desde dezembro passado, mas se mostrou disposta a conversar com o enviado do Papa Francisco.

“O diálogo não pode ser concebido como uma maneira de fazer o país perder tempo”, declarou Jesús Torrealba, secretário-executivo da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Alegando que o governo não cumpriu com os acordos acertados, os delegados opositores suspenderam sua participação, em 6 de dezembro passado, quando deveria ocorrer a terceira rodada de negociações para superar a crise política e econômica.

Na próxima sexta-feira vence o prazo proposto pelo Vaticano e a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) – facilitadores do diálogo – para se criar as condições que permitam a retomada do diálogo.

Os facilitadores haviam exortado os poderes públicos a se “abster de tomar decisões” passíveis de torpedear os contatos, mas as tensões acabaram se aprofundando.

A maioria opositora do Parlamento declarou esta semana Maduro em “abandono do cargo”, ao responsabilizá-lo pela crise, e exigiu a convocação de eleições presidenciais.

Esta decisão é considerada ilegal pelo chavismo, que pediu sua anulação pelo Supremo Tribunal e uma ação penal contra os deputados que aprovaram a medida.

Apesar de rejeitar os contatos diretos com o governo, Torrealba contemplou a possibilidade de um encontro com o enviado do Papa, monsenhor Claudio María Celli.

“Se por alguma razão aqui chegar na próxima sexta um representante do Vaticano, monsenhor Celli ou qualquer outro, vamos recebê-lo com os braços abertos”.

O principal delegado de Maduro, Jorge Rodríguez, anunciou na terça-feira que Celli viajará à Venezuela para tratar de reativar a negociação.

“Nos entrevistamos com monsenhor Celli em sua residência e ele nos manifestou que o papa Francisco persiste em acompanhar o diálogo na Venezuela”, declarou Rodríguez, que se reuniu com o religioso na sexta-feira passada, em Roma.

A MUD exige a convocação de eleições, mas o chavismo nega discutir este tema na mesa de negociações.

“Não discutimos e nem vamos discutir (…) antecipar qualquer data para as eleições presidenciais”, afirmou Rodríguez.

As eleições estão previstas para dezembro de 2018.