A greve geral convocada pela oposição venezuelana para aumentar a pressão contra o presidente Nicolás Maduro era acatada parcialmente nesta sexta-feira, o que foi taxado pelo governo como um “fracasso”.

Em Caracas, Maracaibo – segunda cidade do país -, San Cristóbal e outras capitais estaduais é registrado menos movimento de pessoas que o comum, mas o transporte e algumas lojas e escolas estão funcionando, embora poucas crianças tenham comparecido, enquanto os bancos estão abertos.

“A situação está muito difícil para não trabalhar”, declarou à AFP Alicia de Garcés, de 74 anos, que relatou que sua loja de brinquedos havia contratado vários funcionários no Natal passado e que dessa vez não contratará ninguém. “As pessoas não estão comprando brinquedos, tudo é gasto com comida”, acrescentou.

A greve, que começou às 6H00 locais (8H00 de Brasília) e acabará às 18H00 (20H00), é parte da estratégia adotada pela oposição para forçar a saída de Maduro do poder, após a suspensão na semana passada do processo para a convocação do referendo revogatório.

A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) convocou a população “a deixar as ruas e postos de trabalho vazios” para “pressionar o governo a acatar a Constituição e a respeitar nosso direito de escolher”.

Oficiais das Forças Armadas, cujo alto comando declarou nesta semana “lealdade incondicional” ao presidente, se preparam para iniciar inspeções em 720 empresas para verificar suas atividades.

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“Vamos ter uma mobilização para garantir ao povo acesso aos alimentos e medicamentos, que nenhum hospital permaneça parado. A única maneira de sair das dificuldades é trabalhando”, afirmou o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López.

Maduro destacou que responderá energicamente à “sabotagem” e ao “golpe parlamentar”, como chama a greve e o plano da maioria opositora na Assembleia Nacional de declará-lo em “abandono de cargo”, por considerar o presidente responsável pela crise política e econômica.

“Não vou aceitar nenhum tipo de conspiração. Empresa parada, empresa recuperada pelos trabalhadores e a revolução”, disse o presidente.

Greve com aumento salarial

“Mais uma vez a direita apátrida venezuelana fracassou”, declarou o ministro da Alimentação, Rodolfo Marco Torres.

Na quinta-feira, Maduro anunciou o aumento de 40% do salário mínimo, o que eleva o pagamento a 90.911 bolívares (140 dólares).

Apesar de ser o quarto aumento decretado por Maduro em 2016, os venezuelanos reclamam que os salários não cobrem quase nada, ante uma inflação que, segundo o FMI, deve chegar a 475% este ano, a maior do mundo.

Empresários e economistas acusam o modelo socialista de “desmantelar” a capacidade produtiva do país, muito afetado pela queda dos preços do petróleo e dependente das importações.

A Confederação de Indústrias da Venezuela recomendou às empresas que deem liberdade aos funcionários para participar na greve, porque o protesto é “um direito constitucional”.

A Confederação do Trabalhadores da Venezuela (CTV) afirmou que atenderá a convocação porque a crise afeta “em sua imensa maioria” a força de trabalho.

De acordo com o instituto Venebarómetro, Maduro enfrenta uma impopularidade de 76,4%, ao mesmo tempo que 67,8% dos venezuelanos se declaram favoráveis à revogação de seu mandato, que vai até janeiro de 2019.


O passado, ainda fresco na memória

A nova estratégia da MUD inclui uma passeata em 3 de novembro até o palácio presidencial de Miraflores, no centro de Caracas.

A passeata até Miraflores e a greve repetem, para o governo, o “roteiro” de 11 de abril de 2002, quando uma grande mobilização até a residência oficial resultou em confrontos que deixaram 19 mortos e um golpe de Estado que afastou Hugo Chávez do poder durante três dias.

Ao apoiar a convocação da MUD, o primeiro vice-presidente da organização empresarial Fedecámaras, Carlos Larrazábal, afirmou que esta não é uma paralisação patronal, e sim uma “greve cidadã”.

“Esta é uma grande diferença em relação ao passado”, disse Larrazábal, em referência ao fato de, um dia depois do golpe contra Chávez, o então líder da Fedecámaras, Pedro Carmona, chegar a assumir o cargo de presidente da Venezuela.


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