A operação “Escudo de Eufrates” do ejército turco na Síria deixa evidente a mudança da política da Turquia, cuja principal preocupação é a questão curda.

A Turquia diz ter lançado a operação na Síria para expulsar o grupo Estado Islâmico (EI) e as milícias curdas da zona fronteiriça com este país em guerra há cinco anos e meio. Mas por que e que consequências terá?

O objetivo declarado da operação Escudo de Eufrates é expulsar os extremistas da cidade síria de Jarablos, do outro lado da fronteira. No fim da tarde, os rebeldes sírios apoiados por Ancara disseram ter conseguido.

Por que agora?

Esta operação ocorre quatro dias depois de um atentado em Gaziantep (sudeste), perto da fronteira com a Síria, que deixou 54 mortos durante um casamento e que parece ser obra do EI.

Além disso, nos últimos dias a Turquia foi alvo de disparos de morteiro e de foguetes realizados a partir de cidades sírias controladas pelo EI.

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O grupo EI “não parou de atacar o território turco a partir da Síria e esta operação constitui acima de tudo uma resposta” a isso, explica a diretora do Centro de Estudos de Segurança da Universidade de Bahcesehir (BAUCESS) em Istambul, Gulnur Aybet.

“Existe a possibilidade de que estes ataques do EI se intensifiquem e, por isso, a Turquia considerou necessário tomar medidas, cruzar a fronteira (turco-síria) com tanques e tropas terrestres”, acrescentou.

Emre Tuncalp, especialista na Turquia do gabinete de assessoramento em gestão de riscos Stroz Friedberg, também observa uma deterioração da situação de segurança na fronteira: “O ataque de Gaziantep e os disparos de morteiro e de foguetes contra Karkamis de ontem foram a gota d’água”.

Qual é o objetivo?

Para Aybet, esta operação tem duas metas: combater a ameaça do EI e impedir as milícias curdas de se apoderar de territórios dos quais os extremistas foram expulsos.

A Turquia considera que as Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG) estão estreitamente ligadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma organização que classifica de “terrorista”, assim como fazem Washington e a União Europeia.

Os curdos sírios “já ocupam uma parte importante da região fronteiriça, mas uma zona do meio segue nas mãos do EI”, explica.

Com sua intervenção agora, as forças turcas “também impedem as YPG de avançar nestas regiões”, sugere a diretora do BAUCESS.

Tuncalp lembra que a Turquia sempre disse que os combatentes curdos não podiam cruzar uma linha vermelha marcada pelo oeste do Eufrates. Os Estados Unidos dizem ter lembrado os curdos.

Tuncalp acrescenta que Ancara se assustou ao ver os curdos sírios se apoderarem em agosto de Manbij, ao sul de Jarablos, muito afastada do oeste do Eufrates: “Foi um motivo adicional para intervir”.

Quais são as consequências para as milícias curdo-sírias?


Esta operação militar demonstra que a Turquia não deixará as YPG criarem raízes em sua fronteira, segundo Aybet.

A operação “subverte os planos das YPG”, acrescenta. “Acreditam que os americanos os apoiarão até o fim em sua conquista territorial, mas os Estados Unidos jogam com o pragmatismo”.

Será mais tolerante com Assad?

O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, reconheceu pela primeira vez há alguns dias que o presidente sírio, Bashar al-Assad, é um dos “atores” na Síria e que, como tal, é possível “falar com ele para a transição”.

A Turquia está agora mais em contato com Irã e Rússia, aliados de Assad.

Até o momento nenhuma potência ocidental condenou a operação turca, que coincidiu com uma viagem do vice-presidente americano, Joe Biden, a Ancara.

Para o diretor do programa de investigação turco no Washington Institute, Soner Cagaptay, a queda de Assad deixou de ser o principal objetivo da Turquia, e ele agora é deter o avanço dos curdos no norte da Síria.


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