Eles haviam alcançado o Olímpo político. Eram figuras do mais alto escalão na Esplanada dos Ministérios em Brasília e donos de trajetória ascendente no PT. Hoje, vivem no ostracismo. E, por ora, por mais contraditório que possa parecer, querem mesmo ficar por lá – de preferência longe das luzes da ribalta. Alvos da Lava Jato, Aloizio Mercadante, Ricardo Berzoini, José Eduardo Cardozo e Erenice Guerra tentam tocar suas vidas de forma reclusa, bem diferente de um passado recente, quando encarnavam os papéis de principais escudeiros da ex-presidente Dilma Rousseff.

Acusado de obstrução de Justiça e delatado por suposto caixa dois, o ex-ministro da Casa Civil, da Educação e da Ciência e Tecnologia Aloízio Mercadante pediu aposentadoria este ano. Recebe R$ 15 mil mensais como ex-senador, ex-deputado e professor da Unicamp. Para complementar a renda, se vira como consultor. “Ele está desenvolvendo uma consultoria sobre política educacional brasileira para um organismo multilateral”, confirmou sua assessoria. Em setembro, foi hostilizado em Portugal. Conhecido por seu temperamento difícil, o ex-senador foi vaiado e xingado de “ladrão” e “corrupto” no Aeroporto de Lisboa, por supostamente furar a fila do check-in. Ele nega.

Tal como o companheiro de partido, Berzoini, hostilizado recentemente num restaurante, só que sem furar o lugar de ninguém, também resolveu submergir. Neste caso, um recuo tático: o petista já trabalha com um olho nas eleições de 2018. Ex-deputado por São Paulo, ele mudou seu domicílio eleitoral para Brasília este ano. Petistas ouvidos por ISTOÉ garantem que ele é um dos cotados para ser candidato a deputado federal ou mesmo a governador do DF.

Funcionário de carreira do Banco do Brasil, Berzoini deixou de disputar as eleições de 2014 para ajudar na campanha de Dilma Rousseff. Agora, avaliam, seria a hora de o PT retribuir o esforço. Em Brasília, o ex-parlamentar disputaria o mesmo nicho de votos da sindicalista Érika Kokay (PT), uma das principais lideranças da legenda na cidade. Segundo Érika, ainda não há definição de nomes para a disputa de 2018. “Mas seria uma honra e um orgulho para o PT ter o ex-deputado Berzoini disputando qualquer cargo”, disse Érika.

O que representa um orgulho para o PT não necessariamente constitui um orgulho para a população. Berzoini foi duplamente delatado na Lava Jato. Em 2016, o executivo da Andrade Gutierrez Flávio Machado contou que Berzoini pediu 1% de propinas de todas as obras da empresa com o governo federal. Já o ex-presidente da OAS Leo Pinheiro envolveu Berzoini numa trama para enterrar a CPI da Petrobras, potencialmente constrangedora para o governo Dilma.

POSTURA ANUNCIADA

O serviço prestado por Berzoini certamente teria agradado a outro integrante da tropa de Dilma: o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Linha de frente da ex-presidente deposta, hoje, Cardozo não aparenta estar preocupado com governos. Abandonou a política. Dedica-se somente à advocacia e à carreira acadêmica. É sócio de escritórios em São Paulo e Brasília, cidades onde leciona direito administrativo em instituições como a PUC-SP.

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Em entrevista à ISTOÉ disse que se ocupa a proferir palestras nos EUA, Inglaterra, Portugal e Espanha. Assegurou que não pretende lançar-se em 2018. Rechaçou, contudo, que esteja no ostracismo. “Tive uma postura publicamente anunciada em relação a sair da vida pública, após muitos anos”, afirmou Cardozo.

Erenice Guerra não fez declaração pública de desistência da política. O que ela abandonou foi seu escritório de advocacia em Brasília. Desde que a Lava Jato irrompeu, seus negócios haviam minguado. Até que ela decidiu fechá-lo. Agora, também quer distância dos holofotes. A ex-ministra da Casa Civil é uma das investigadas no chamado inquérito do “quadrilhão” no Supremo. Sem cargo e sem perspectivas de reativar o trabalho de advogada, ela vai ter que dançar quadrilha em outras plagas.


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