Depois dos Jogos, as instalações do Parque Olímpico se transformarão em escolas, centros de referência esportiva e áreas públicas de lazer
Depois dos Jogos, as instalações do Parque Olímpico se transformarão em escolas, centros de referência esportiva e áreas públicas de lazer (Crédito:Dhani Accioly Borges)

Os Jogos Olímpicos de 2016, que começam no dia 5 de agosto, não são a causa da crise do Rio de Janeiro. Ao contrário: o maior acontecimento esportivo do mundo é um trunfo para superar a atual situação. O evento será responsável por injetar US$ 36 bilhões na economia da cidade e por criar 60 mil empregos (confira quadro). Foi também graças à Olimpíada que o governo estadual conseguiu aporte financeiro emergencial de R$ 2,9 bilhões da União. Com esse dinheiro, o Estado poderá colocar em dia os salários atrasados dos policiais e honrar outros compromissos prioritários. Segundo o prefeito Eduardo Paes (PMDB), o evento olímpico teve custo 35% menor do que o previsto, ajudou a melhorar a nota do Rio de Janeiro nas agências de classificação de risco e levou a cidade a registrar a maior taxa de investimento do Brasil, enquanto manteve um dos menores índices de endividamento. “No ápice da crise, o município manteve um padrão elevado e funcionou a pleno vapor, muito em razão dos Jogos”, afirmou Paes à ISTOÉ. “Em todas as capitais, entre 2014 e 2015, os investimentos caíram, mas nós aumentamos em 53%.”

Graças à Olimpíada,  o cenário cultural  do Rio de Janeiro foi revitalizado. O Museu do Amanhã, inaugurado no fim de 2015, transformou-se em uma das principais atrações da cidade
Graças à Olimpíada,
o cenário cultural
do Rio de Janeiro foi revitalizado. O Museu do Amanhã, inaugurado no fim de 2015, transformou-se em uma das principais atrações da cidade

O economista Alberto Borges, especialista em finanças públicas da Aequus Consultoria, aponta como legado mais relevante o volume de investimentos que ficam para a cidade. A saúde econômica da capital vem daí. “Em 2015, o montante investido no Rio representou 43% do total somado em todas as capitais do País”, diz. Já o professor de economia e finanças do Ibmec-Rio Ricardo Macedo acha que a crise estadual é que impede o evento, e a cidade, de faturar mais alto – e não o contrário. “O que deveria ser um ciclo virtuoso dá sinais de cansaço antes do esperado, afetado pelo desemprego e pelas limitações que tomam o País.”

Ao longo dos preparativos, a Prefeitura assumiu responsabilidades que originalmente eram de outros entes governamentais, justamente pela falta de recursos nas demais esferas. Com as mudanças, a administração municipal passou a responder por 93,5% das obras das arenas esportivas e 60% das obras de legado para a cidade. “A Prefeitura está fazendo quase tudo dos Jogos”, afirma Paes. “Se a Olimpíada fosse o motivo da crise, quem estaria quebrado seria eu.”

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Ao menos nove municípios do Estado fluminense têm alto potencial turístico e trabalham para atrair uma parcela dos 500 mil visitantes estrangeiros previstos para os Jogos. A equipe suíça de ciclismo mountain bike escolheu a cidade de Petrópolis como centro de preparação antes do evento. Outros times, inclusive brasileiros, optaram por cidades próximas, como Saquarema, onde fica o centro de treinamento da seleção brasileira de vôlei. Na capital, foi lançado um plano de políticas públicas que reúne projetos impulsionados pelos Jogos, com investimentos nas áreas de mobilidade, meio ambiente, urbanização, esporte, educação e cultura. Um dos principais é a expansão malha de transporte urbano. Ao fim dos Jogos, 50% dos cariocas terão opções de transporte público a no máximo 1 km de casa. Em 2012, esse índice era de 17%.

Alguns desafios não foram resolvidos, mas avançaram muito. Na Bacia de Jacarepaguá, Zona Oeste, houve melhorias na drenagem e ampliação da capacidade de escoamento da água da chuva, beneficiando 350 mil moradores. Também foi construída uma nova estação de tratamento de esgoto com capacidade para atender 430 mil pessoas de 21 bairros da região. A partir de novembro, 65 milhões de litros de dejetos deixarão de ser despejados diariamente na Baía de Guanabara. A meta de despoluir o cartão-postal, no entanto, não foi alcançada. O compromisso inicial era ter 80% do esgoto tratado até o início dos Jogos, mas o percentual atual é de 51%, segundo a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). “Se chover e a maré baixar, o lixo vai subir e a disputa de vela na Olimpíada terá problemas”, diz o ambientalista Mário Moscatelli.

Se a Baía de Guanabara concentra as críticas, a Região Portuária, no Centro, é só elogios. As obras do Porto Maravilha mudaram completamente a vizinhança, que ganhou um novo meio de transporte, o veículo leve sobre trilhos (VLT), e novas opções de lazer, com a revitalizada Praça Mauá, que se tornou um polo de museus. Outra área recuperada foi o entorno do Estádio Olímpico, no bairro do Engenho de Dentro, na Zona Norte. Ali foi construída uma praça de 35 mil metros quadrados, a maior área de lazer da região. Outras 36 ruas do entorno foram reformadas, ganhando ciclovias e calçadas adaptadas para acesso de cadeirantes.

A lista de benefícios relacionados à Olimpíada ainda passa pela segurança. Depois dos Jogos, o Centro de Operações Rio (COR), uma espécie de quartel-general que reúne 30 órgãos municipais e estaduais, permanecerá ativo. Os 500 profissionais que trabalham no COR monitoram a cidade 24 horas por dia e ajudam a antecipar soluções e minimizar o impacto de ocorrências emergenciais, como chuvas fortes, deslizamentos e acidentes de trânsito. A educação também ficará com um importante legado: algumas instalações do Parque Olímpico – como a Arena do Futuro, que receberá jogos de handebol e goalball – serão desmontadas e se transformarão em escolas, cada uma com capacidade para 500 alunos. Em meio à crise que assola o Estado, nada melhor do que uma herança bendita para ajudar a reerguer a economia e o moral do Rio de Janeiro.