Brasil
Olhos nos olhos

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Dia 26 de junho de 2016, nove da noite. Quem não estava botando as crianças para dormir, acompanhava pela TV a final da Copa América, vencida pelo Chile contra a Argentina, nos pênaltis, por 4×2, depois de um empate em 0 x 0 no tempo regulamentar e na prorrogação.

Em Brasília não era diferente – exceto no Palácio do Jaburu. Na residência oficial dos vice-presidentes, isolados da cidade por intermináveis jardins e alamedas, Michel Temer e Eduardo Cunha encontraram-se em segredo. Apeado dias antes do comando da Câmara sob o peso de sua folha corrida, o deputado foi recebido fora da agenda oficial e, descoberto pela imprensa, negou que lá tivesse ido. A assessoria do interino também ensaiou um desmentido, mas diante do batom generalizado, acabou confirmando a notícia.

Em circunstâncias normais, haveria escândalo (afinal, o que justificaria a conduta de alcova juntando o provisório-supremo-mandatário-do-País e o réu-símbolo-da-corrupção-parlamentar?), mas, com todas as atenções voltadas para o impeachment, o episódio ficou barato para ambos. Ainda assim, mentes escaldadas relacionam aquela conversa ao que aconteceu no capítulo final do julgamento de Dilma Rousseff no Senado.

Segundo essa versão, Cunha ameaçou jogar denúncias no ventilador, envolvendo Temer e ilustres aliados seus em episódios ao gosto da Lava Jato, caso o Planalto o abandonasse às feras na Câmara.

A manobra de estender ao processo de cassação de Cunha e a jabuticaba que preservaria os direitos políticos de Dilma, sob os auspícios do PMDB, foi o acordo firmado no tête-à-tête. A Temer, o puro, bastaria fingir-se surpreendido e indignado, como, de fato, o fez.

Naturalmente, para que a citada trama mereça crédito, será preciso digerir com gosto a teoria conspiratória na qual se apoia. Mas, diante do que sabemos da criatividade e do caráter de nossos políticos, a pergunta que fica é a seguinte: quem pode, em sã consciência, descartar a hipótese de que o delírio acima corresponda à mais verdadeira das histórias?

Economia
Nas nuvens
A área econômica do Governo estuda desregulamentar a atividade bancária. Uma das medidas seria deixar as instituições financeiras concorrerem entre si, principalmente para baixar os preços das tarifas. Todas derramando de ganhar dinheiro, tendo o governo como grande cliente, pagando 14,5% de juros ao mês.

Judiciário
Amor na pauta

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Na quarta-feira 31, o STF iniciou o julgamento de recurso extraordinário envolvendo interesse de companheiras em todo o País. Sete ministros (Dias Toffoli pediu vista) reconheceram ser a companheira de um homem falecido a “herdeira universal” dos bens do casal. Antes, o TJ MG deu 1/3 dos bens para a mulher e o restante para três irmãos do falecido. O relator Luís Roberto Barroso (foto) frisou que o regime sucessório, “antes sempre conectado à noção tradicional do casamento, hoje precisa considerar a afetividade e um projeto de vida em comum”. A decisão não anulará sucessões transitadas em julgado ou partilhas com escritura pública.

Eleições 2016
Ele & Ela

Com Dilma Rousseff fora de combate, Lula vai dedicar mais tempo às eleições municipais. Recife será um dos primeiros destinos. Na capital pernambucana, o ex-prefeito petista João Paulo saiu na frente da concorrência, com 27% das intenções de voto, segundo o Ibope. São Paulo também terá atenção extra do ex-presidente. Lula está na bronca com a ex-petista e ex-ministra Marta Suplicy (PMDB). Diz que ela se acovardou, nada perguntando a Dilma e nem falando na sessão de encaminhamento do voto no Senado. E na Hora H disse “sim” para a saída de Dilma.

OEA
Tempo para pensar

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Dos sete cargos no primeiro escalão da OEA, o Brasil ocupa três. E com petistas de primeira ordem: Ideli Salvatti, na foto, (ex-secretária de Desenvolvimento Social), Paulina Duarte (ex-secretária de Segurança Multidimensional) e Paulo Abrão (ex-secretário de Direitos Humanos). Cada um ganha uns US$ 180 mil por ano. E o País deve à OEA cerca de US$ 27 milhões. Quando Dilma perdeu o cargo, o Conselho Permanente estava reunido para tratar do processo de paz na Colômbia. Os embaixadores da Venezuela, Nicarágua e Equador condenaram “o golpe”. Surpresa, a missão do Brasil prometeu responder os questionamentos.

Aviação civil
Bons ares

Por três dias na semana passada, o Aeroporto de Congonhas sediou a na 13ª Latin American Business Aviation Conference and Exhibition (LABACE), a maior feira de aviação civil da América Latina. Na quarta-feira 31, dia do impeachment, a gigante da indústria de aeronaves (Bell Helicopter) fechou quatro vendas de aeronaves executivas. Cada unidade ao preço médio da ordem de US$ 6 milhões. É aquele velha história: para o super-rico, crises são marolas, nunca tsunamis.

Legislativo
Olho vivo

Aprovado na surdina em comissão da Câmara dos Deputados, o substitutivo da comissão especial ao projeto de lei 442/1991, sobre a exploração de jogos no País, pode ter sido por encomenda. O texto proibiu nas casas de bingo o antigo caça-níquel e ainda prevê a instalação de máquinas em bares e padarias, com licença de prefeituras – uma maneira disfarçada de legalizar as 300 mil engenhocas clandestinas, boa parte operadas com apoio do PCC.

BOE-4-IE

Impeachment
Entre eles

Aliviada após sua defesa no Senado na segunda-feira 29, Dilma recebeu apoiadores no Alvorada. Lá, José Cardozo olhou insinuante à Fabiane Duarte (foto) secretária-geral do STF. O gesto teria levado a assessora do ministro Ricardo Lewandowski a ocupar posição menos visível na sessão do impeachment. Cardozo sorria, como a gostar da história.

Cultura
Capela desfigurada

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A Igrejinha da Pampulha, agora patrimônio mundial, está repleta de cadeiras brancas de plástico, que substituíram os bancos de época, desenhados em sintonia com a obra de Oscar Niemeyer e Cândido Portinari. Além dos ventiladores de pé, espalhados na nave, lembrando os helicópteros de “Apocalypse Now”, as cadeiras de forro vermelho junto ao altar-mor são mais uma agressão ao ambiente que a Unesco decidiu chancelar. A Arquidiocese de Belo Horizonte precisa cuidar melhor do espaço, orgulho dos mineiros – e de todos os brasileiros.

STJ
Filtro para o STJ

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A ministra Laurita Vaz assumiu a presidência do STJ, na quinta-feira 1º, de olho no Congresso. Uma de suas principais metas é a aprovação da PEC que permitirá ao tribunal julgar apenas os recursos especiais de questões de grande relevância.

Fotos: Antonio Cruz/Agência Brasil; Divulgação/STF; Sergio Lima/Folhapress; Geraldo Magela/Agência Senado; Geraldo Costa