Sem armas de fogo nem explosivos sofisticados — apenas carros, facas e bujões de gás — terroristas islâmicos mataram na semana passada dezenas de pessoas em vários locais da Europa. O maior alvo foi Barcelona, na Espanha, uma das cidades mais turísticas do mundo, onde um radical dirigindo um furgão atropelou uma multidão de pedestres nas Ramblas, calçadão que recebe milhares de visitantes diariamente. O saldo, só na capital catalã, foi de 13 mortos e mais de 100 feridos. Junto desse atentado, aconteceram ações em outros dois municípios nas proximidades: cinco terroristas foram mortos após atacarem transeuntes e assassinarem uma mulher em Cambrils; e uma pessoa foi morta na explosão de uma casa, enquanto radicais preparavam uma bomba em Alcanar. Vários suspeitos foram presos pela polícia, que fala em “atentado de maior alcance” e, até o fechamento desta edição, ainda buscava foragidos. O principal suspeito de dirigir a van é o jovem marroquino Moussa Oukabir, de 18 anos. Enquanto isso, um homem matou dois a facadas em Turku, na Finlândia, horas depois do principal ataque. Ele foi detido. “São assassinos, criminosos que não vão nos aterrorizar”, disse a família real da Espanha, em comunicado. “A ameaça é global, e portanto a resposta deve ser global”, afirmou o primeiro-ministro do País, Mariano Rajoy.
Em todos os ataques foram usados instrumentos simples e cotidianos, nada de objetos feitos exclusivamente para matar. É uma espécie de terrorismo de baixo custo que vem sendo estimulado pelo Estado Islâmico, que assumiu a autoria dos atentados. É muito difícil tomar medidas contra ataques assim. Não por acaso, eles estão se espalhando. Só na Europa, foram oito desde Nice, na França, em 2015, com 87 mortos. Seis deles deixaram vítimas fatais além do perpetrador.

Moussa Oukabir

ALVO DE OPORTUNIDADE

O crime é perigoso porque pode ser planejado rapidamente e quase não dá indícios de que está para acontecer. A polícia não tem como rastrear todos os suspeitos de conexão com o terror que possuam ou aluguem veículo automotor. E os bandidos não precisam de vultosas somas de dinheiro ou de contatos. Basta entrar no automóvel, escolher uma concentração de pessoas e acelerar. Locais mais visados, como Wall Street, em Nova York, possuem postes de contenção para situações assim, mas nada impede que o radical escolha outra calçada qualquer. “Este é um alvo de oportunidade”, diz o especialista em terrorismo Henri Barkey, autor de diversos livros sobre conflitos no Oriente Médio. “É impossível pará-los e os terroristas vão continuar a usar esses recursos.”

Barcelona foi escolhida por ser um dos maiores polos turísticos da Europa e do mundo. Seus 1,6 milhões de moradores receberam 32 milhões de visitantes em 2016 — boa parte deles no verão do hemisfério norte. Dentro os pontos mais procurados, as Ramblas perdem apenas para a Igreja Sagrada Família. Os terroristas sabiam que a via certamente estaria lotada nessa época do ano. Entre as vítimas confirmadas estão alemães, belgas, espanhóis, italianos e portugueses, incluindo crianças. Pessoas de 34 nacionalidades ficaram feridas.

Além de chocar a população local, portanto, o atentado se internacionalizou ao mirar cidadãos de todas as partes, que passeavam de férias. Assim como grandes eventos, lugares globalmente famosos estão na mira. “É um golpe de marketing, como o ataque ao Parlamento Britânico”, afirma Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. “Qualquer local facilmente identificável é alvo, pois todos os que visitaram poderão dizer ‘eu conheço, estive lá, poderia ser eu.”

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