A Odebrecht negocia acordo de leniência com investigadores dos Estados Unidos e Suíça. A investigação inclui suspeitas de pagamentos ilícitos do grupo no Equador, Venezuela, El Salvador e Panamá, além do próprio Brasil. Na Suíça, o crime seria de lavagem de dinheiro por meio de quatro empresas de fachada. O valor da multa pode chegar a R$ 6 bilhões.

A negociação pode resultar no maior acordo de leniência já realizado no mundo. A Siemens chegou a pagar cerca de US$ 1,6 bilhão ao governo americano. Já a francesa Alstom pagou US$ 770 milhões em outro acordo. A holandesa SBM Offshore pagou US$ 340 milhões. Metade do valor arrecadado nos acordos de leniência deve ser direcionado ao Brasil.

A dimensão inédita do acordo foi atingida depois que, por meio de delações premiadas de dezenas de executivos, ficou claro que existia um esquema sistemático de pagamento de propinas e que essa prática ia muito além das fronteiras do Brasil.

Os detalhes dessas supostas infrações foram debatidos já entre procuradores brasileiros e autoridades suíças, que passaram a cooperar numa nova fase de delações. As revelações apontariam um esquema inclusive com suspeitas de financiamento de campanhas em outros países da América Central e América do Sul.

Os suíços já pediram a cooperação do Panamá, Liechtenstein e outras jurisdições diante da descoberta de transações financeiras suspeitas nesses países. Berna suspeita que campanhas políticas na América Central foram financiadas com recursos ilícitos que passaram por contas secretas em Genebra e Zurique. “O mapeamento das atividades da Odebrecht pelo mundo já está praticamente encerrado”, disse um advogado em Genebra próximo ao caso.

Outra dimensão das delações e das contas secretas na Suíça aponta para atividades na África, um território no qual a Odebrecht avançou de forma importante nos últimos 20 anos. Um dos principais centros de atividade seria Angola, com o suposto pagamento de propinas.

Foco
O acordo estabelecido é de que os suíços não se concentrariam em processos para prender infratores, mas apenas aplicariam penas financeiras aos eventuais envolvidos. Advogados de defesa em Genebra confirmaram ao Estado que muitos dos casos hoje abertos pelos suíços devem ser “arquivados” perante uma multa, uma vez que os dados sejam repassados para o Brasil. O executivo da empresa, Fernando Miggliacio, por exemplo, não foi processado na Suíça, mas extraditado ao Brasil.