A terceira ponte de Bósforo, inaugurada nesta sexta-feira (26) pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan, é uma das grandes obras almejadas pelo presidente para construir uma “nova Turquia”, e que seus críticos veem como “delírios de grandeza”.

Com esta obra, Erdogan pretende deixar uma nova impressão na história da Turquia moderna, marcada pela construção das duas primeiras pontes de Bósforo (1973 e 1988).

A ponte, uma conexão automobilística e ferroviária, foi construída em tempo recorde, e é a estrutura suspensa mais longa do mundo, ainda que na realidade seja uma construção híbrida – suspensa e estaiada ao mesmo tempo.

Erdogan cortou a fita para inaugurar a obra e depois usou a via ladeado por um comboio de segurança composto por dezenas de veículos e motocicletas.

“Chegar ao nível de uma nação civilizada não é possível com palavras, são necessárias ações”, disse Erdogan na cerimônia, destacando que a ponte conecta dois continentes.

“As pessoas morrem, mas sua obra é imortal”, indicou.

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O acontecimento também supõe a ocasião de um breve momento de glória em um país ainda atordoado pelo golpe de Estado frustrado de um mês e meio atrás. Além disso, coincide com o envio de tanques ao norte da Síria e com um atentado mortal, atribuído a combatentes curdos, no sudeste do país nesta sexta-feira.

Em um reflexo de sua impressionante dimensão, a ponte herdou o nome do sultão Yavuz Selim, que conquistou extensas áreas do Oriente Médio durante um reinado de oito anos e que continua sendo muito respeitado entre os turcos.

Nos últimos anos, o presidente turco, que governa desde 2003, multiplicou projetos de urbanização muito ambiciosos, muitas vezes anunciados com alarde. Em Istambul, cidade da qual foi prefeito, inaugurou em junho a faraônica mesquita de Çalmica, um de seus grandes trabalhos.

A maiorias dessas construções procuram descongestionar essa metrópole de 18 milhões de habitantes, muito afetada pela poluição e pelos monstruosos engarrafamentos, unindo as fronteiras europeia e asiática.

“Todo mundo deve saber que nós construímos o futuro de Istambul ao mesmo tempo em que protegemos sua história”, afirmou à AFP o ministro de Transportes, Ahmet Arslan.

“Fachada política”

Em 2015, Erdogan voltou a lançar a ideia de um canal paralelo ao estreito de Bósforo, que prevê a escavação de uma via acústica de 43 quilômetros de comprimento entre o mar Negro, ao norte, e o mar de Marmara, ao sul, na parte europeia da maior cidade da Turquia.

Por outro lado, o governo anunciou para 2020 um “mega projeto” de um túnel sob o estreito de Bósforo, com três níveis e 6,5 quilômetros de distância.

“Desde que foi eleito, Erdogan não deixou de ter em vista Istambul, que tornou uma verdadeira fachada política”, explicou à AFP Jean Marcou, professor do Instituto Sciences Po Grenoble (França) e investigador associado do Instituto Francês de Estudos Anatólios.

Essas construções contribuem para reforçar a potência do regime, quando o país parece enfraquecer pelo aumento dos atentados em seu território e o conflito com os curdos.

Entre outras grandes obras destacam-se linhas férreas de grande velocidade e a abertura de novas centrais hidroelétricas e térmicas, muitas das quais foram dirigidas pelo novo primeiro-ministro, Binali Yildirim, fiel aliado de Erdogan e ex-ministro de Transportes.


“A longo prazo, todos esses grandes projetos desenham uma nova Turquia contando com o respaldo de Erdogan”, sublinhou Marcou.

“Massacre ambiental”

Uma política de grandes projetos, orquestrada pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), no poder, que foi objeto de críticas que denunciam “projetos loucos” em busca da grandiosidade e da rentabilidade.

A iniciativa mais controversa é a construção de um terceiro aeroporto, que deveria estar finalizado em 2018 e que permitirá acolher 200 milhões de passageiros.

O anúncio provocou a ira das organizações ecológicas, que denunciaram “um massacre ambiental” em uma área florestal situada perto do lago Terkos, uma das seis principais reservas de água potável de Istambul.

Há três anos, o projeto de reconstrução de uma quartel otomano onde se encontra o parque Gezi provocou violentos protestos contra o governo na praça Taksim.

“Vemos que [os protestos] fizeram vacilar o governo pois, há três anos, não havia tocado no parque Gezi”, recordou Marcou. “Indiscutivelmente, o governo se viu obrigado a levar em conta a resistência”.


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