Barack Obama, mais do que nunca, foi simplesmente Barack Obama. Nos últimos oito anos, as suas falas na Organização das Nações Unidas, como a de qualquer outro primeiro mandatário, tinham cada palavra estrategicamente pensada e pesada com antecedência. Dessa vez, em sua última aparição na ONU como presidente dos EUA, Obama, cabelos mais grisalhos e semblante mais reflexivo, imprimiu ao seu discurso um tom de despedida e deixou ao mundo importantes recados sobre os conflitos que afligem a humanidade. Referiu-se sobretudo à Síria, mergulhada numa guerra civil que desde 2011 matou cerca de 300 mil pessoas e gerou um fluxo recorde de 4,9 milhões de refugiados. Obama foi incisivo e pediu a 50 nações que aceitem 360 mil imigrantes em 2017. “Essa crise na Síria é um teste para a nossa humanidade. A história nos julgará severamente se não fizermos nada agora, e se tornará uma mancha coletiva em nossa consciência, assim como já a manchou o desprezo que tivemos pelos judeus durante o nazismo”, discursou ele. O alerta de Obama colocou a Síria em pauta e a questão tomou conta dos discursos — quase todos os líderes abordaram-na terça-feira 20, um dia após o final do cessar-fogo devido ao ataque a um comboio que levava ajuda humanitária. No balanço de seus acertos e erros, Obama sabe que a Síria é uma das pedras em seus sapatos e um fantasma em sua insônia: “Pergunto-me o que eu poderia ter feito de diferente. A situação na Síria me persegue constantemente”.