Cruzado, Cruzado Novo, Bresser e Verão. Pela ordem, de 1986 a 1993, foram esses os planos econômicos implementados na vã esperança de livrar o Brasil do absoluto caos econômico. Todos fracassaram. Collor foi eleito e Zélia avacalhou a situação quando confiscou nossas economias sem pedir licença.

É compreensível que seja difícil para a nova geração imaginar tal cenário, mas durante todo esse período os índices de inflação batiam recordes, a vida das pessoas era permeada pelo estoque de alimentos, pelo congelamento de preços e por termos como overnight.

Para quem viveu na pele, contudo, é impossível não ser grato a Fernando Henrique Cardoso. Sob a sua batuta, Pedro Malan, Pérsio Arida e André Lara Resende, entre outros, desenharam um plano capaz de organizar as contas públicas e pavimentar o nascimento de uma nova moeda. E o próprio Congresso foi toureado até aprovar cada uma de suas etapas.

Está tudo certo, o sociólogo que deu uma guinada do Ministério das Relações Exteriores para a Fazenda foi mesmo genial, entretanto, isso não nos impede de constatar sua versão menos charmosa: a do player político vaidoso e, acima de tudo, focado nos caminhos do seu partido. Como outro qualquer.

A notícia que li no jornal O Globo nessa semana, por exemplo, dando conta de que ele busca diálogo com o PT para estabelecer “uma saída controlada para o País”, foi apenas mais um desses momentos que vêm se repetindo ao longo dos últimos tempos.

Confesso, cheguei a me perguntar como poderia ter-lhe faltado sensibilidade — nesse caso específico para com 12 milhões de desempregados —, a ponto de cogitar uma conversa com Lula e o Partido dos Trabalhadores.

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Pior ainda, levei a sério a hipótese de que seria pelo bem geral. Quem sabe, de fato amainando o clima até as próximas eleições, e inclusive viabilizando parte das reformas tão necessárias para o futuro do País.Durou pouco, não se preocupem.

Fato é que não faz o menor sentido, depois de tudo o que aconteceu e ainda está acontecendo, alimentar a esperança de uma conversa que envolva tucanos, petistas e peemedebistas.FHC, na verdade, não tem culpa alguma se ainda tomamos seus predicados intelectuais como salvo-condutos perpétuos.O sociólogo e o monstro, na prática, sempre foram um só.


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