O setor automobilístico brasileiro enfrenta um período dramático. Longe da pujança do início da década, o Brasil passou a disponibilizar no mercado pouco mais da metade dos carros que produzia e em dois anos deixou de ser o quarto maior mercado do mundo para amargar a décima posição no ranking. Para se ter uma ideia, de janeiro a outubro a indústria automotiva produziu 1,73 milhão de unidades, o que representa queda de 17,7% em relação às 2,1 milhões registradas no mesmo período de 2015. Trata-se do pior resultado desde 2003, segundo dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotivos. No entanto, a expectativa é que esses números se revertam e que em 2017 os resultados sejam melhores. “Passamos por uma profunda crise econômica e política. Agora o Brasil está encontrado o seu caminho”, diz o consultor automotivo Paulo Roberto Garbossa.

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Essa é a aposta do Salão Internacional do Automóvel, que acontece em São Paulo até 20 de novembro. O evento conta com a apresentação de 540 veículos de 32 marcas e contabiliza cerca de cem lançamentos. Por mais que pareça contraditório oferecer ao consumidor novos produtos em um momento de desaceleração econômica, faz parte do negócio estar à frente, investir em tecnologia e apresentar novidades que atendam às demandas dos compradores. “Ao participarem do salão, as montadoras mostram ao consumidor que confiam no Brasil e que, se hoje o mercado está restrito, amanhã ele vai melhorar”, afirma Garbossa. Outra explicação para o grande número de lançamentos está no fato de muitos projetos terem sido iniciados ainda antes da crise – e é muito difícil interromper um processo de produção. “A confecção de um carro não é feita em quinze dias”, diz Garbossa. “Por isso, não dá para cancelá-la no meio do caminho e jogar fora o que foi investido.”

Nesse contexto, o Salão do Automóvel de São Paulo surge como oportunidade para contribuir na retomada do setor automotivo, já que é o quinto maior evento do tipo no mundo, com público médio de 750 mil visitantes. “Trabalhamos contra a crise ao funcionarmos como plataforma para lançamentos”, afirma Paulo Octavio Pereira de Almeida, vice-presidente da Reed Alcantara Machado, empresa organizadora do evento. “A mostra ajuda a criar conexão emocional entre consumidor e marcas”, diz Almeida. “Esse elo fora do mundo digital é importante para as montadoras”.

Por essa razão, além de ver e tocar nas desejadas máquinas, o visitante também consegue fazer o test drive de alguns carros. A experiência pode ser desfrutada em um espaço de 20 mil metros quadrados reservado para esta finalidade no novo endereço onde ocorre o evento esse ano, o São Paulo Expo, após ser sediado por décadas no Parque de Exposições do Anhembi. A mudança de local, no entanto, em nada tem a ver com redução de custos, mas sim com a capacidade de oferecer uma melhor infraestrutura para as empresas, funcionários e visitantes. “Não tivemos nenhum temor ao produzirmos o Salão do Automóvel em meio à crise. Sabemos que o mercado brasileiro é extremamente competitivo e estamos otimistas para a retomada do setor já em 2017”, afirma Almeida. É o que todos esperam.

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Foto: Jorge Araújo/Folhapress