Dois experimentos divulgados com apenas uma semana de diferença são os mais recentes exemplos de como a medicina avança no tratamento das paralisias. Na semana passada, médicos da Clínica Mayo e da Universidade da Califórnia descreveram como a associação de um implante eletrônico e intensa atividade física devolveu algum movimento a um paciente paralisado há três anos. E, há 15 dias, pesquisadores da Case Western Reserve University publicaram as imagens do americano Bill Kochevar, paralisado há oito anos, movendo seu braço direito.

A estratégia que une esses dois avanços é o uso de eletrodos que permitem a restauração, ao menos parcialmente, da condução de sinais elétricos prejudicada por causa das lesões. Esses estímulos são imprescindíveis para que o corpo se movimente. Gerados no cérebro, são enviados para o resto do organismo por meio das fibras nervosas abrigadas na coluna espinhal. Qualquer lesão nesse caminho interrompe o fluxo e as consequências podem ir da perda total de movimento ao prejuízo em funções como o controle da bexiga. Por essa razão, o foco da medicina é encontrar meios de restabelecer a comunicação elétrica ao longo do sistema nervoso central.

Efeito surpreendente

No caso do paciente da Clínica Mayo, o eletrodo foi implantado na altura da 16ª vértebra, onde ocorreu a lesão após um acidente. Além da colocação do recurso, os médicos associaram uma intensa atividade física, antes e depois da ativação do equipamento. A reabilitação muscular, acreditavam os cientistas, seria vital para que o corpo respondesse às ordens enviadas pelo cérebro. Eles estavam certos. Ao final do programa, o paciente manifestou controle voluntário de músculos em intensidade suficiente para permitir que ficasse de pé, com apoio dos braços, em uma barra de apoio. “Estamos animados”, comemorou o neurocirurgião Kendall Lee, diretor do Laboratório de Engenharia Neural da Clínica Mayo. “Os resultados foram além do que esperávamos.” De acordo com os cientistas, é a primeira vez que um indivíduo controla intencionalmente funções paralisadas apenas duas semanas após estimulação.

O vídeo de Bill Kochevar levando bebida e alimentos à boca correu o mundo. Mostrou, pela primeira vez, ser possível devolver a alguém com paralisia completa a capacidade de alcançar e segurar objetos. Foi um longo trajeto. Primeiro, os médicos da Case Western Reserve University implantaram sensores no córtex motor de Bill. Ele passou quatro meses treinando comandos, usando na experiência um braço virtual 3D. Em seguida, 36 eletrodos foram instalados na mão e braço direitos. O sistema contou ainda com um decodificador, responsável pela transformação dos sinais elétricos cerebrais produzidos por Bill a partir de suas intenções de movimento em coordenadas para que os eletrodos funcionassem.

O ciclista americano ficou exultante com o que realizou. “Fiz os movimentos sem precisar me concentrar muito neles”, contou. “Apenas pensava e eles aconteciam.” Ter de volta alguma autonomia é o maior ganho para pessoas na situação de Bill. Ainda não há previsão sobre quando ambos os procedimentos estarão disponíveis. No planejamento da Clínica Mayo, está a identificação de quais os pacientes serão os mais beneficiados. Na Case Western University, o objetivo é aprimorar o sistema desenvolvido para Bill e testá-lo em outros indivíduos.

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