Olimpíada 2016/Esporte

Nenhuma outra cidade encarou tantos desafios quanto o Rio para promover uma Olimpíada. Poucas vezes eventos desse tipo enfrentaram, antes de começar, tantas trevas. Em 2016, o terrorismo promovido pelo Estado Islâmico matou milhares de pessoas, o radicalismo de líderes estúpidos como Donald Trump acentuou preconceitos, o aumento do fluxo migratório tornou o Velho Continente menos tolerante. No Brasil, a mesma escuridão alastrou-se nos últimos dois anos. A corrupção sem fim levou ao declínio econômico, a violência urbana produziu tragédias nas grandes cidades e muitas outras desgraças contemporâneas tiraram o ânimo de um País otimista por tradição. Para muita gente, tudo isso seria motivo para que não houvesse Olimpíada. O que aconteceu, porém, foi o oposto. A Rio-2016 funcionou como um antídoto contra a melancolia – e não o contrário. Ninguém esperava, evidentemente, que a Olimpíada fosse capaz de resolver os problemas nacionais. Mas ela, e isso é inegável, fez muito para o Brasil e o Rio em particular.

CHAMAS - O ex-maratonista Vanderlei Cordeiro acende a pira: aplausos para o Brasil
CHAMAS – O ex-maratonista Vanderlei Cordeiro acende a pira: aplausos para o Brasil (Crédito:foto: Frederic Jean)

Não era culpa da Rio-2016 o fato de o País passar por um por período tão conturbado. Muita gente fez essa confusão. O Brasil enfrentava momentos difíceis, mas que provavelmente seriam piores sem o alento da Olimpíada. É óbvio que erros cometidos pela organização, como entregar a Vila dos Atletas inacabada, deveriam ter sido condenados (efetivamente foram), como é verdade que promessas são feitas para serem cumpridas (é mesmo uma tristeza o Rio não ter despoluído a Baía da Guanabara, de acordo com o programa de ações apresentado à sociedade). Tudo isso é uma pena, mas não reconhecer que o Rio se tornou uma cidade melhor depois dos Jogos pode soar como uma grande injustiça.

CAMPEÃ - Rafaela Silva, da Cidade de Deus, foi ouro no judô: vitória da favela
CAMPEÃ – Rafaela Silva, da Cidade de Deus, foi ouro no judô: vitória da favela (Crédito:foto: Frederic Jean)

A Olimpíada do Rio significou a redenção da autoestima nacional. O golpe desferido pela Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2014 não só escancarou as mazelas do futebol brasileiro como feriu de morte o orgulho do País. O 7 a 1 foi horrível, mas tivemos uma chance de ouro para superar essa mácula. Como há muito tempo não se via, os brasileiros se encheram de esperança, felizes com a Olimpíada que foram capazes de organizadar e com a oportunidade rara de desfrutar de um período luminoso de uma das cidades mais iluminadas do mundo. “O Brasil provou que sabe realizar grandes eventos”, diz Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro. “A Olimpíada e a Paralimpíada foram um sucesso em termos de performance e legado.” Os dois eventos produziram heróis que encheram a nação de orgulho. No salto com vara, o paulista Thiago Braz quebrou o recorde olímpico e deixou para trás o francês que detinha a melhor marca da história. No judô, Rafaela Silva, negra, homossexual e nascida na favela da Cidade de Deus, superou preconceitos para faturar o ouro. Na canoagem, Isaquias Queiroz venceu problemas de saúde e uma infância de miséria para conquistar três medalhas. A Olimpíada representou um dos eventos mais marcantes da história do País. Que seu legado perdure.

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“O Brasil provou que sabe realizar grandes eventos. A Olimpíada e a Paralimpíada foram um sucesso em termos de performance e legado” Andrew Parsons, 39 anos, chefe do Comitê Paralímpico Brasileiro (Crédito:foto: Frederic Jean)