Quando, pela nona vez, em dez anos mais da metade dos médicos recém-formados é reprovada no exame de avaliação do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, o alerta, que já era intenso, fica ensurdecedor. Na versão de 2016, cujos resultados foram anunciados na semana passada, dos 2,677 mil profissionais que se submeteram à prova, 56% (1.511) não chegaram na nota mínima. Isso significa que acertaram menos de 60% das 120 perguntas do teste. Erraram coisas básicas: 80% não souberam interpretar uma radiografia; 63% não conseguiram ler corretamente uma tomografia abdominal e 70% não sabiam a resposta certa sobre o que fazer diante de um paciente com crise hipertensiva. O pior desempenho foi entre os egressos de faculdades privadas (66% foram reprovados).

Os números evidenciaram a urgência da adoção de medidas que melhorem a formação médica no Brasil. Mudar a forma de apresentação do conteúdo aos estudantes está entre os passos necessários. “O método de ensino tradicional, com o professor na sala de aula, apresentando slides, por exemplo, não funciona. A retenção de informação é baixa”, afirma Alexandre Holthausen, diretor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, em São Paulo. Entre os formatos ideais, estão aqueles que facilitam o trabalho em grupo e incentivam a solução de casos a partir das informações recebidas. Este aspecto, particularmente, é muito importante, uma vez que está demonstrado que muitos dos novos médicos não conseguem associar os dados para formular um diagnóstico.

Só aprovados

Introduzir a interdisciplinaridade é outro passo vital. “O ensino fragmentado leva ao aprendizado segmentado”, diz Holthausen. Mais um ponto a ser melhorado é a avaliação ao longo do curso. “Não se ouve falar em aluno de medicina reprovado”, afirma Bráulio Luna Filho, diretor do Cremesp e coordenador do exame. “Isso precisa mudar. Se não aprendeu, não avança.” Os especialistas sugerem que o acompanhamento da evolução do estudante seja constante para evitar que ele se forme sem ter noções básicas de medicina.

A entidade paulista defende que só exerçam a profissão os estudantes aprovados em avaliações feitas por entidades representativas, nos mesmos moldes dos aplicados pela Ordem dos Advogados do Brasil. Há um projeto de lei nesse sentido sendo formulado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).


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