Atendimento de qualidade, praticidade e preço justo. Foi assim que o aplicativo de caronas pagas Uber foi apresentado quando chegou ao Brasil, em 2014. Por muito tempo, o serviço fez jus à propaganda. Carros novos, motoristas educados, água e balas como cortesia, além das tarifas acessíveis, conquistaram milhares de clientes, muitos dos quais sequer usavam táxi. Com o tempo, a boa impressão inicial foi dando lugar a reclamações. Usuários estão insatisfeitos com uma mudança da interface do aplicativo — que deixou de avisar quando a tarifa é “dinâmica”, ou seja, podendo variar de preço — e com a insegurança que alguns condutores transmitem, seja em relação ao itinerário, à própria habilidade ao volante ou a forma como tratam os passageiros. Foi o que ocorreu com a fotógrafa Larissa Felsen, 28 anos. Ao solicitar um carro pela Uber quando saía de um bar no Centro de São Paulo, ela passou por uma experiência assustadora. O motorista já havia iniciado a corrida antes de ela ter entrado no carro. Durante o trajeto, ao perceber que ele faria um retorno errado, ela o advertiu — e foi expulsa do carro aos berros, bem antes de a corrida terminar. O condutor seguiu sem a passageira até o destino final, que era a casa dela, e só encerrou a corrida 50 minutos depois. “Ele ficou estacionado por um tempo em frente à minha casa. Fiquei morrendo de medo”, diz ela. “Eu deveria ter pago R$ 7, mas a corrida me custou R$ 29,99.” Como ela, que voltou a usar aplicativos de táxis, muita gente prefere não contar com o serviço. “As pessoas estão descontentes e nós também. Neste ano, muitos motoristas vão deixar a Uber, alguns já foram para o concorrente”, diz um condutor. Além da Cabify, empresa de origem espanhola já em atuação no País, a brasileira Televo vem oferecendo corridas a preços mais baixos que a pioneira Uber.

Uma das razões para o declínio da qualidade do serviço pode estar na frustração dos próprios motoristas. “Se a remuneração é baixa, a rotatividade cresce e há um desencanto, a qualidade cai e o sistema perde a confiança do usuário”, diz Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transportes. “O motorista começa a trabalhar no entusiasmo. Quando percebe que a remuneração não compensa, ele tem duas saídas: ou trabalhar demais, aumentando riscos e reduzindo a qualidade, ou abandonar o aplicativo”, afirma. O consultor de trânsito Flamínio Fishman vai além, atribuindo ao modelo de negócio da Uber a insatisfação dos usuários. “Onde eles enxergam uma brecha na legislação, eles entram de forma muito agressiva. Aqui, a Uber faz promoção para concorrer com ônibus. Isso não é saudável. Em outros locais existe uma preocupação maior com a harmonização da concorrência”, afirma.

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Com o desemprego em alta, a Uber se tornou uma alternativa de remuneração até para quem não possui carro próprio. No final de 2015, 7 mil motoristas atuavam com o aplicativo em todo o País. Hoje, são 50 mil condutores cadastrados para atender aos 8,7 milhões de clientes registrados no aplicativo. “A demanda cresce continuamente por esse tipo de serviço, então novos motoristas entram na plataforma constantemente para garantir que os usuários tenham um carro rapidamente”, informou à reportagem de ISTOÉ a assessoria de imprensa da empresa.

Para continuar crescendo nesse ritmo, a Uber não só facilita o cadastro como paga R$ 700 ao associado que indicar um amigo (desde que o novo motorista complete 40 corridas). Sobre o incidente com a fotógrafa Larissa, a empresa diz que irá devolver o valor pago a mais e investigar o condutor. “Monitoramos muito de perto o funcionamento da plataforma e desativamos usuários e motoristas que infrinjam os termos de uso”.

Como é em outros países
A Uber funciona de acordo com cada regulamentação municipal

Estados Unidos
• Algumas cidades exigem que os motoristas sejam submetidos a uma rigorosa verificação de antecedentes e a programas de treinamento. Os veículos são inspecionados por um mecânico autorizado

• Em 2015, na Califórnia, o aplicativo foi multado em US$ 7,3 milhões por não repassar informações sobre número de corridas, requisições de carros acessíveis para deficientes e causas de acidentes

• Pode haver obrigatoriedade de seguro no valor de até US$ 1 milhão para cada corrida

México
• A Cidade do México impôs um valor mínimo equivalente a US$ 12,6 mil para um veículo poder ser utilizado no serviço. O imposto de 1,5% do custo da corrida é destinado a melhorar os serviços de táxi

Reino Unido
• Em outubro, a Justiça decidiu que os motoristas do Uber são empregados da empresa, que deve arcar com todos custos trabalhistas, incluindo folga remunerada

A Uber conta hoje com 50 mil condutores cadastrados para atender aos 8,7 milhões de clientes registrados no aplicativo