Potencial substituta da Lava Jato, a Operação Greenfield, deflagrada na semana passada, atingiu o coração de um sistema que, nos últimos vinte anos, transformou um dinheiro que é privado num instrumento de ação política e empresarial por parte dos ocupantes do poder. São os notórios fundos de pensão de empresas estatais que, há décadas, têm servido para agradar os empresários que melhor se conectam ao capitalismo de estado brasileiro.

Durante o governo FHC, foi a montanha de dinheiro dessas fundações que permitiu que vários “capitalistas sem capital”, uma contradição brasileira, participassem das privatizações. Nesse modelo, foram vendidas empresas como Vale, CSN, telefônicas, Embraer e tantas outras, compradas por empresários que alavancaram seus consórcios com dinheiro dos fundos.
Com a chegada de Lula ao poder, e o consequente fim das privatizações, as fundações passaram a investir em novos projetos, especialmente nos setores de energia e infraestrutura, que começam do zero – daí o nome “greeenfield”. O que se investiga, agora, é se as fundações pagaram pelas cotas dos projetos valores bem maiores do que recomendariam a prudência, especialmente em casos de projetos que viraram pó, como o da polêmica Sete Brasil, criada para produzir sondas para o pré-sal.

O ideal é proibir toda e qualquer nomeação política,
até porque são entidades privadas com dinheiro do trabalhador

Ainda que a avaliação de um projeto não seja uma ciência exata, uma vez que as condições de mercado sempre oscilam para cima e para baixo, os déficits atuariais dos fundos levantaram as suspeitas que deram a origem à ação policial. Um dos riscos, com a Operação Greenfield, é não separar o joio do trigo e criminalizar até iniciativas que tenham sido bem-sucedidas. Outro é condenar os gestores dos fundos, daqui para a frente, a investirem apenas em projetos de renda fixa, mamando na taxa de juros, sem fomentar o desenvolvimento.

O ponto central, no entanto, é outro. Hoje, as fundações de empresas estatais têm representantes majoritários indicados pelo governo e minoritários eleitos pelos reais donos do dinheiro, que são os trabalhadores. Esse modelo nunca foi realmente contestado pelos funcionários das estatais porque os eventuais rombos dos fundos acabavam sempre cobertos pela União, garantindo aposentadorias privilegiadas.
A partir de agora, no entanto, o ideal é que todos os representantes sejam eleitos pelos trabalhadores, que controlariam diretamente os seus investimentos. Até porque há não nenhum motivo para que o Estado interfira na gestão de um dinheiro que é privado e pertence a entidades privadas, ainda que ligadas a empresas estatais. E se maus investimentos vierem a ser feitos, a responsabilidade será dos trabalhadores que não souberam controlar seus próprios gestores.