PORTINARI POPULAR – MASP, SP – até 15/11

“Morro” (1933)
“Morro” (1933) (Crédito:Eduardo Ortega)

O fato de a tela Retirantes (1944) ser a obra do acervo do Masp mais postada nas mídias sociais é um ponto importante. Mas não é o único fator que levou o museu a dedicar a Cândido Portinari (1903-1962) sua 12ª exposição individual. “P.M Bardi tinha uma relação muito próxima com Portinari; ele foi o primeiro artista que visitou quando chegou no Brasil e o primeiro brasileiro ganhar uma exposição monográfica no Masp, em 1948”, diz Camila Bechelany, curadora-assistente do Masp, que assina a mostra com o diretor artístico Adriano Pedrosa e o curador adjunto de arte brasileira Rodrigo Moura.

Agora Portinari é novamente priorizado ao ganhar a primeira exposição individual da nova gestão do Masp, que tem como proposta resgatar os projetos originais da instituição. Não custa lembrar que, quando a nova equipe assumiu em 2014, encontrou uma instituição sucateada, pálida lembrança do que havia sido não apenas o mais importante museu de arte do hemisfério sul, mas ícone máximo da inovação. O projeto de revitalização do museu a partir de suas premissas teve como ponto de partida a retomada dos cavaletes de vidro para a exibição das obras da mostra de longa duração do acervo.

VIVA O POVO ”O Lavrador de Café” (1934)
VIVA O POVO ”O Lavrador de Café” (1934) (Crédito:Rodrigo Patrocínio)

Em “Portinari Popular”, outro projeto expositivo de Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta do edifício do museu, está sendo resgatado. Trata-se de uma estrutura de pilares de madeira, criada pela arquiteta para a mostra “Cem obras-primas de Portinari” (Masp, 1970). A estrutura permite grande mobilidade e circulação dos visitantes, facilitando à equipe curatorial estabelecer relações inusitadas entre pinturas organizadas em seis eixos curatoriais: retratos, tipos populares, temas brasileiros, cenas de morros, mulheres e o trabalho no campo – entre os quais incluem-se quatro obras da série dos retirantes, blockbuster do museu.

A exposição principia com um “Baile na Roça” (1924), primeira fase de trabalho do artista, quando ainda era residente em Brodowski, interior do estado de São Paulo, e lançou-se espontaneamente em temas sociais. Depois vem os retratos – aqui priorizados os personagens anônimos –, entre os quais o jovem mulato que foi o modelo dos famosos “Mestiço” (data) e “o Lavrador de Café” (1934). Entre as centenas de retratos da elite brasileira pintados por Portinari, a curadoria escolheu apenas um: o escritor Mario de Andrade (1893-1945), importante interlocutor do artista.

A inclusão do retrato de Mario de Andrade entre as 50 pinturas da exposição tem um sentido especial. Mario foi pioneiro no estudo da cultura popular brasileira e a exposição abre um novo ciclo de eventos que enfocam temas populares. Antecipa “A Mão do Povo Brasileiro”, reedição da histórica exposição de 1969, que trouxe para São Paulo a riquíssima cultura material do País, e dialoga com a instalação “Trabalho”, do artista contemporâneo Thiago Honório, inaugurada concomitantemente a “Portinari popular”.