A esquerda sempre teve, nos debates políticos, o monopólio das virtudes. Só um esquerdista se preocupa com os mais pobres, com as minorias, com a justiça social. Trata-se, claro, de uma grande falácia, de uma estratégia para impedir o verdadeiro debate, acerca dos meios para os fins nobres e desejados. Rotula-se o adversário com base em suas supostas intenções malignas para não ter de rebater seus argumentos e fatos. Diante disso, muitos liberais, dos quais faço parte, reclamavam do “departamento de marketing” da direita. Somos incapazes de conquistar corações, pois só focamos nas mentes, achamos que a razão será sempre suficiente e, por isso, desprezamos as emoções. Ledo engano, que tem servido há décadas de trunfo político para socialistas.

Mas algo está finalmente mudando. Vide a vitória de Trump, que não se intimidou com a pressão da esquerda, apoiada pela mídia que, derrotada tanto quanto Hillary Clinton, apelou para a conversa mole de “pós-verdade”, como se nos tempos de Obama – logo dele! – a política fosse o campo da sinceridade. Eis o que assusta a esquerda: a perda do monopólio da mentira. Não quero dizer, com isso, que liberais devem celebrar as mentiras ou o populismo. É tudo lamentável, motivo pelo qual queremos reduzir o estado e a política em nossas vidas. Mas, em que pesem os riscos de exagero populista, vejo como saudável o fato de que “o lado de cá” parece ter aprendido a jogar melhor o jogo.

É o que mostra, por exemplo, a campanha publicitária do governo Temer no final de 2016. Houve exageros ali, sem dúvida, mas também muita coisa legítima a ser celebrada. Depois de longos anos de pura roubalheira e incompetência, de gastança descontrolada, o fato é que reformas importantes entraram em pauta ou já foram aprovadas. Mérito do “presidento”. O outro caso foi João Dória, prefeito eleito no primeiro turno, que se vestiu de gari no primeiro dia de mandato, um ato simbólico para demonstrar que vai se preocupar com os mais pobres também, com todos. A atitude incomodou a esquerda, que nunca reclamou de Obama distribuindo sopas para os pobres ou do “coxinha” Haddad pegando ônibus. É marketing também, mas pelo visto só a esquerda pode.

Dória será avaliado por sua gestão, como Haddad foi. O que importa não é a roupa de gari, mas sim o que efetivamente for feito por seu governo. E, convenhamos, a simbologia é válida: o novo prefeito terá de limpar muita sujeira deixada pelo petista, assim como Temer precisa consertar parte do rastro de destruição deixado por Dilma.

Que ambos façam o que deve ser feito sem cair no populismo, mas também sem deixar de se preocupar com a imagem popular. A narrativa importa, e ela não pode ser monopólio esquerdista.

João Dória vestiu-se de gari. E sua atitude incomodou a esquerda. Mas ela nunca reclamou de Obama  distribuindo sopas para os pobres ou do “coxinha” Haddad pegando ônibus

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