Poucas vezes na história da Olimpíada a conquista de uma medalha gerou tanto constrangimento quanto a prata da russa Yulia Efimova, nos 100 m peito. Antes de cair na piscina, na segunda-feira 8, Yulia ouviu mais de 10 mil pessoas vaiarem o seu nome enquanto ela se dirigia para o bloco de mergulho. De olhos fechados, Yulia parou diante da plataforma e suspirou várias vezes. Durante a prova, os torcedores vibraram com a liderança da americana Lilly King e comemoram muito, como se ela fosse brasileira, quando cravou o primeiro lugar. Pouco depois, Yulia dirigiu-se para a rival vencedora, mas Lilly recusou-se a cumprimentá-la. A russa saiu da piscina e imediatamente começou a chorar. Ela sabia que era a pessoa mais odiada dentro da arena.

O calvário de Yulia é resultado do escândalo de doping que afastou quase a metade da delegação russa dos Jogos do Rio. Ela própria só veio ao Brasil por um triz. Entre outubro de 2013 e fevereiro de 2015, foi suspensa das competições após testar positivo para um esteroide anabolizante. Em 2016, nova condenação, desta vez pelo uso de uma substância chamada meldonium, que aumenta a capacidade de o atleta produzir energia. Yulia foi autorizada a vir ao Rio faltando apenas 15 dias para a Olimpíada. “Cometi erros e fiquei suspensa por 16 meses”, disse a russa aos prantos, depois de receber a sua medalha e ver novamente as rivais darem as costas. “Na segunda vez, não foi erro meu. Não posso ser considerada uma intrusa olímpica para sempre.” Pode, se recorrer ao doping de novo.