Na última semana, o PMDB decidiu rebatizar a sigla com seu nome de nascença: o MDB – “Movimento Democrático Brasileiro”. Resta apenas a aprovação da convenção nacional da legenda, em 27 de setembro, para que a mudança seja oficializada, mas o partido terá de ir além da unidade interna se quiser demonstrar que a troca de nome não constituirá tão somente uma medida cosmética, destinada a promover uma repaginada na imagem deteriorada pelo tempo e maculada pelos recentes escândalos da Lava Jato – que é o que tudo parece indicar a olho nu.

O MDB velho de guerra nasceu em meio à ditadura, após o governo editar o Ato Institucional número 2 extinguindo os partidos existentes, com objetivos e conceitos bem definidos. Embora caracterizada pela multiplicidade ideológica, por reunir dissidentes de várias agremiações, entre elas o PTB e PSD, a legenda foi fundada para fazer oposição à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime. Em seus primeiros anos, chegou a ser tachada de “oposição tolerada” pois, de certo modo, a sua própria existência conferia legitimidade aos militares. Mas logo o partido consolidou sua vocação combativa ao compor uma chapa, formada por Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho, cujo propósito era o de insurgir-se contra o general Ernesto Geisel, o escolhido pela ditadura. O partido fincava ali seu estandarte oposicionista. De lá para cá, a legenda sofreu uma série de transformações desde o protagonismo nas Diretas, à vitória na primeira eleição da transição democrática, passando pelo seu esporte predileto até regressar ao poder com Michel Temer : o bicanoísmo, que consistia em manter um pé em cada canoa – governista e oposicionista – para estar sempre e invariavelmente perto das benesses oficiais.

Agora, flerta com uma candidatura própria ao Planalto em 2018, condicionada ao êxito do governo Temer, mas reconhece intramuros estar distante do pulsar das ruas. Por isso, seria mais do que lícito supor que o interesse em adotar o nome de origem estaria relacionado com a impopularidade da legenda. Uma maneira, portanto, de atenuar o desgaste sofrido com os recentes escândalos de corrupção, que, justiça seja feita, atingiram não apenas o PMDB, como todos os partidos em geral, em especial o PT. O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), jura que não. Ou seja, contrariando o que dizia Brizola, a estratégia tem rabo de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, corpo de jacaré, cabeça de jacaré, mas não é jacaré. “Estamos resgatando a nossa memória histórica e retirando o último resquício da ditadura militar do PMDB”, resumiu. O senador Roberto Requião (PR) debochou: “Mudar o nome do partido agora tem o mesmo efeito que mudar o nome do Jucá. Vamos trocar a ordem das sílabas para Caju. Não tem efeito algum”, disse.

HOJE Jucá, Michel Temer e Renan Calheiros: partido fala em renovação, mas precisa indicar caminhos (Crédito:André Coelho)

MUDANÇA

Sem recorrer ao recurso fácil da ironia, embora convidativo nem sempre é honesto, outros integrantes do PMDB dizem não enxergar a mudança com bons olhos. Para eles, a troca da sigla é uma discussão rasa no contexto atual. O debate, argumentam, deve ser amplo no sentido de repensar o partido como um todo. A prioridade deveria ser mudar o comportamento do PMDB, tornar o partido mais propositivo e aproximá-lo da sociedade. Só assim, avaliam, “será possível retomar o status de partido mais importante do País e maximizar a influência do PMDB na difícil circunstância política que vive a nação”. Bem, reeditar Ulysses é tarefa inviável, mas ao menos seria um caminho.

O PMDB na história

1966 O MDB surgiu após o governo editar o Ato Institucional número 2, que extinguiu os partidos existentes

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1974 O partido lançou o anticandidato Ulysses Guimarães para disputar com o general Ernesto Geisel (Arena) a eleição indireta para a presidência da República. Perdeu no Colégio Eleitoral.

1978 O partido concorreu com o general Euler Bentes Monteiro para disputar com o general João Figueiredo (Arena) a eleição indireta para a presidência da República. Perdeu no Colégio Eleitoral por 355 contra 226

1980 Acabam Arena e MDB. São criados 6 partidos. O PDS sucede a Arena. O PMDB assume a herança do MDB.

1982 Nas eleições diretas para governador o partido elegeu nove, o PDS 12 e o PDT um. Nas eleições para deputado, o PMDB elegeu 200.

1985 No Colégio Eleitoral, mesmo sendo uma eleição sem o voto popular, o candidato do PMDB Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf do PDS

1986 Nas eleições para a Constituinte, o partido elegeu 260 deputados de um total de 487.

2017 Desde o governo Collor (1990/1992) até hoje, o PMDB tem formado a maior bancada no Congresso.

 


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