Em franca ascensão, o candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, João Doria, deixou a lanterna das pesquisas de intenção de voto para se tornar o favorito da disputa local. A guinada o aproxima significativamente de um possível segundo turno contra Marta Suplicy (PMDB) ou Celso Russomanno (PRB), que hoje têm respectivamente 20% e 22% das intenções, contra 25% do tucano, segundo pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira 22. No PSDB, a guinada de Doria é atribuída a três fatores centrais: o longo tempo de rádio e TV, a novidade política do candidato e a tradição tucana na cidade.

Mas há ainda outro ponto a favorecer o tucano: o peso dos caciques do partido em torno de sua candidatura. Desde o início, numa controversa disputa interna, o candidato contou com o intenso apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Faltava, porém, a cereja do bolo. Até semana passada, um dos principais formadores de opinião do tucanato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, optara por se manter longe da disputa, em respeito ao ex-correligionário Andrea Matarazzo (PSD). O vereador rompeu com o PSDB após denunciar uma fraude nas prévias pela prefeitura, das quais Dória saiu vitorioso.

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Agora, porém, FHC decidiu ceder aos apelos do partido. Ao observar a melhora no desempenho de Doria e perceber a chance de pela primeira vez em vinte anos ter uma chapa “puro-sangue” de tucanos na prefeitura, com Bruno Covas na vice, o ex-presidente anunciou que gravaria programas eleitorais com o candidato. Segundo interlocutores, sua fala deverá dialogar tanto com o tradicional eleitor tucano como com a elite intelectual, na qual Russomanno tem maior rejeição. O intermediário da reaproximação foi o senador e presidente nacional do PSDB Aécio Neves (MG), que tem rodado o país em apoio às campanhas tucanas.

Com o giro, Aécio pretende não apenas impulsionar os candidatos da sigla, mas sobretudo testar sua força pós-impeachment junto à população. Ao todo, o mineiro deve gravar mais de 230 programas. Além de Dória, o senador acompanha de perto as campanhas de tucanos como Carlos Osório, no Rio de Janeiro, Nelson Marchezan Júnior, em Porto Alegre, e Arthur Virgílio Neto, em Manaus. A principal aposta de Aécio para fortalecer seu capital político, contudo, é o candidato à capital mineira, João Leite (PSDB), que é o favorito da disputa e alcançou, na última semana, 33% das intenções de voto. Na campanha de Leite, entretanto, as referências ao PSDB são modestas. No vídeo gravado ao lado de Aécio e do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), o nome do partido nem aparece – a intenção é passar uma imagem de independência partidária e atrair o máximo de eleitores à candidatura.

Do lado petista, a ação dos caciques em favor dos candidatos parece inócua. Em São Paulo, o forte apoio do ex-presidente Lula a Fernando Haddad, que disputa a reeleição, não atraiu votos. Ao que tudo indica, o eleitorado que votou no petista há quatro anos se dividiu entre Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (PSOL). Nos bastidores, a candidatura petista contava com a rejeição ao impeachment e uma reação mais enfática à denúncia contra o ex-presidente para mobilizar o eleitorado. Foi com frustração, então, que a campanha de Haddad recebeu a última pesquisa, na qual o petista segue em quarto lugar, com 10%.

Depois de ter se mantido longe da disputa pela prefeitura de São Paulo, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso gravará programas eleitorais para João Doria

Além de São Paulo, seu berço político, Lula tem rodado o Nordeste, região em que tem maior popularidade, mas a oferta de seu apoio também parece não dar votos. Dentre os candidatos nessas capitais, só dois, do PCdoB e do PDT, são favoritos a vencer. Um deles é Edvaldo Nogueira, em Aracaju, e o outro é Edivaldo Holanda Júnior, candidato à reeleição em São Luís. Nomes inicialmente bem cotados já vêem a vitória se distanciar. É o caso do ex-prefeito João Paulo (PT), em Recife, que caiu para o segundo lugar, com 29%, enquanto o atual prefeito, Geraldo Júlio (PSB), decolou para 38%. Em Fortaleza, a deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins (PT) não sai do terceiro lugar e frustra expectativas petistas.

RESULTADO ZERO

De volta à cena política após o impeachment, a ex-presidente Dilma Rousseff também decidiu apoiar publicamente algumas candidaturas. No PT, seu principal candidato é o gaúcho Raul Pont, que está em segundo lugar na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre. Foi para ele que Dilma gravou seu primeiro programa eleitoral, onde diz amar a cidade em que “construiu sua vida” e ressalta as características administrativas do aliado. A ex-presidente, entretanto, dedica atenção especial às candidatas mulheres que compuseram a linha de frente de sua defesa no Congresso: as comunistas Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Alice Portugal (PCdoB-BA). Na última semana, Dilma participou de comícios e carreatas com as duas, nas quais se disse vítima de machismo ao longo do processo de impeachment e disse que ser mulher era “um ato de resistência”. A presença não fez muito efeito. No Rio, Jandira segue em terceiro lugar, com 22 pontos a menos que o primeiro colocado, Marcelo Crivella (PRB). Em Salvador, Alice está em segundo, com 12%, muito atrás do atual prefeito ACM Neto (DEM), que tem 69%.

Maior estrela da Rede Sustentabilidade, Marina Silva tem tido uma participação discreta nestas eleições. O fato se deve à baixa expressividade dos candidatos da sigla nas principais cidades – todos com menos de dois dígitos nas pesquisas. Em sua primeira disputa como partido, a Rede optou por lançar quadros próprios na maioria dos casos. Foi assim no Rio, com Alessandro Molon, em São Paulo com Ricardo Young, em Manaus com Luiz Castro e em Rio Branco, terra de Marina, com Carlos Gomes. Nenhum, entretanto, tem chances reais. O principal candidato apoiado pela Rede é o peemedebista Sebastião Melo, atual favorito na disputa pela prefeitura de Porto Alegre.