Brasil/Líderes  1985

O que deveria ser uma festa da democracia virou tristeza. Eleito presidente da República pelo colégio eleitoral em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves adoeceu às vésperas da posse. Saído de uma campanha cansativa, o político de 75 anos foi internado às pressas, com fortes dores abdominais. Uma grande comoção atingiu o País que acompanhava a divulgação dos boletins médicos com inédito interesse. Até que, em 21 de abril, foi anunciada sua morte no Hospital das Clínicas, em São Paulo.

“A sociedade brasileira vivia um momento duro de ditadura e Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Teotônio Vilela conseguiram unir as pessoas em torno de um único objetivo: trazer de volta a democracia”, diz Henrique Vale, 23 anos, presidente nacional da Juventude do PSDB. “Com muitas pessoas receosas de apoiar a democratização, Tancredo teve a capacidade de construir diferentes frentes e retomar o processo no Brasil.”

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Com sua morte, a comoção tomou conta das ruas. Num dos maiores cortejos fúnebres já realizados no País, cerca de dois milhões de pessoas viram o caixão de Tancredo Neves passar por São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e São João del Rey. Na capital da República, o corpo foi velado por uma enorme multidão no Palácio do Planalto, onde houve missa de corpo presente. Em Belo Horizonte, as cenas foram ainda mais impressionantes: tumultos na praça da Liberdade, provocados pela ansiedade da multidão, resultaram em quatro mortos e 271 feridos. “As imagens do drama são de uma imensa mobilização do povo como há muito tempo não se via”, diz Vale. “Foi um reencontro da população com o civismo.”

Consolidação

Depois de algumas discussões jurídicas questionando a possibilidade de o então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães, assumir a presidência, prevaleceu o entendimento de que José Sarney, vice na chapa de Tancredo, seria o presidente. No poder, Sarney restabeleceu as eleições diretas e promulgou uma nova Constituição, três anos depois da posse.

Para Henrique Vale, há um paralelo entre o momento da eleição de Tancredo e o atual, no qual a sociedade vive uma polarização no campo das ideias e o acirramento das disputas políticas. “Cabe à minha geração buscar o equilíbrio, a parcimônia e a vontade, como Tancredo, para unir o povo brasileiro”, diz ele. “Precisamos mudar com ideias e práticas novas.”

“Tancredo teve a capacidade de construir frentes para retomar o processo de democratização no Brasil” Henrique Vale, 23 anos, presidente nacional da da Juventude do PSDB
“Tancredo teve a capacidade de construir frentes para retomar o processo de democratização no Brasil”
Henrique Vale, 23 anos, presidente nacional da da Juventude do PSDB