O Brasil viverá, já no início dessa semana, uma situação inédita. Pela primeira vez, um presidente da República será denunciado por corrupção passiva, quando o procurador-geral Rodrigo Janot apresentar a sua peça acusatória contra Michel Temer. Janot deve alegar que a mala de R$ 500 mil em propinas da JBS, que levou à prisão o ex-assessor palaciano Rodrigo Rocha Loures, tinha Temer como destino final.

Acossado, Temer viu sua aprovação cair a míseros 2% na última semana, o nível mais baixo já registrado na história do País. Ou seja: sua situação amplia os custos políticos para todos os que decidirem se manter no barco. Coincidência ou não, o PSB, que apoiou o impeachment, não só desembarcou como, em pleno horário eleitoral, pediu renúncia e diretas-já. Aguarda-se, agora, a posição do PSDB, cujo presidente de honra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dizia aguardar um documento jurídico, para decidir que rumo tomar em relação à sua “pinguela”.

A tendência, portanto, é o desembarque também dos tucanos. Por isso mesmo, já há uma percepção clara, entre os agentes econômicos, de que Temer será incapaz de entregar as reformas prometidas. Não apenas porque lhe falte legitimidade, mas sobretudo porque a agenda central de sua administração passou a ser a própria sobrevivência.

Em meio a esse espetáculo deplorável, o Brasil sangra em todos os campos. Na economia, depois de quedas recordes do PIB em 2015 e 2016, as estimativas para 2017 já foram revistas para baixo e andam perto de zero. Na diplomacia, o Brasil foi retratado pelo jornal francês Le Monde como uma “estrela pálida”. Na Noruega, as autoridades não se constrangeram em cortar pela metade repasses de um fundo de combate ao desmatamento, no momento em que Temer visitava o país.

O resumo da ópera é que o Brasil nunca viveu uma situação tão melancólica. Como espectadora, a sociedade já deixou claro o que deseja em diversas pesquisas: um reencontro com a democracia, por meio de eleições diretas – um tema que divide a direita brasileira. Enquanto tucanos temem a volta de Lula, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) argumenta que Temer, rejeitado por quase todos os brasileiros, é hoje o maior cabo eleitoral do PT.

Saída para uma situação tão complexa só haverá se os principais atores envolvidos estiverem dispostos a discutir um pacto. Do lado tucano, o ex-presidente FHC passou a defender o diálogo com todas as forças políticas. No campo petista, o líder Carlos Zarattini (PT-SP) condenou a possibilidade de prisão do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). São sinais de fumaça, que podem indicar uma costura mais ampla.

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Enquanto Temer será denunciado pelo MP por corrupção, a grande maioria dos brasileiros deseja diretas. Haverá um pacto político?


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