O Paris Saint-Germain e Neymar acabam de escrever um capítulo inédito na história do futebol mundial. Ao pagar uma multa de 222 milhões de euros (821 milhões de reais) ao Barcelona, o clube francês faz do craque brasileiro o novo rei de Paris. Apesar da cifra recorde de seu contrato e da evidente possibilidade que se abre para que finalmente possa ser considerado o melhor jogador do mundo, sem a sombra do argentino Lionel Messi, o jogador que agora veste a camisa 10 do PSG foi diplomático durante a apresentação à imprensa, na sexta-feira 4. Disse que considera Messi o melhor e que “foi o coração que pediu” sua troca de time. O craque não quis entrar no mérito do protagonismo e enfatizou que foi para Paris por ser um novo desafio na carreira. Eufórico – e não era para menos — Nasser Al-Khelaïfi, presidente do clube francês, não mostrou estar preocupado com o dinheiro que desembolsou. “Tenho certeza que vamos ganhar mais do que gastamos”, disse. Ele está certo. O nome Neymar ultrapassa o futebol. Prova disso é que, mesmo antes da apresentação do jogador, torcedores do PSG se amontoavam em uma fila para comprar a camisa 10 — gentilmente cedida pelo argentino Javier Pastore — com o nome de Neymar Jr. A expectativa do clube é vender 1 milhão de camisas do jogador, ao preço de 150 euros, o que renderia ao PSG um lucro de 40 milhões de euros, ou seja, quase 20% do valor da multa paga pelo “roubo” do meia do Barcelona.

A chegada de uma das principais estrelas do esporte mundial em Paris acende holofotes no acanhado campeonato francês. Os clubes do país não têm a mesma tradição que espanhóis, italianos e ingleses nas grandes competições mundiais. Faltam aos franceses títulos vistosos, craques, público e até mesmo gramados de boa qualidade. O nível técnico e tático é inferior ao dos outros campeonatos europeus. Embora tenha conseguido uma surpreendente vitória por 4 x 0 sobre o Barcelona em 14 de fevereiro, durante as oitavas-de-final da Liga dos Campeões, o PSG não avançou no campeonato, perdendo o jogo seguinte por 6 x 1 — numa partida em que Neymar deu um show e não viu a torcida do Barça responder à altura de seu desempenho em campo. O PSG não é hoje nem o melhor clube da França: foi vice na última temporada. Por isso mesmo Neymar chega a Paris com o desafio de tirar a França da periferia do futebol. Para isso, o craque vai precisar nada menos do que vencer mais uma vez a Champions League, só que sem os companheiros Suárez e Messi, com quem formava o badalado trio MSN. Não será fácil, mas Neymar é o único jogador que pode torná-la realidade.

EUFORIA Torcedores fazem festa nas ruas e filas para comprar a camisa de Neymar: expectativa é vender 1 milhão de unidades (Crédito:PHILIPPE LOPEZ)

Nascido em Mogi das Cruzes (SP), em 5 de fevereiro de 1992, Neymar brilhou no Santos (que poderá receber quase R$ 33 milhões pela transação com o PSG, na qualidade de clube formador) e chegou ao time catalão em 2013. Na Espanha, conquistou títulos importantes (leia quadro), mas ficou limitado por não ser a maior estrela do Barça. Agora, longe do argentino e com o status de personagem principal de um campeonato no qual a habilidade do brasileiro tem tudo para sobrar, Neymar fica mais perto de colocar o troféu de melhor do mundo na estante.

 

Dono do time

É inegável que a proposta financeira pesou. O jogador receberá o triplo que no Barcelona, algo como 30 milhões de euros (cerca de R$ 111 milhões) por ano no PSG, em um contrato de cinco anos, além da participação nos lucros dos hotéis dos donos do clube francês e um jatinho para viajar ao Brasil quando quiser, fora 40 milhões de euros (R$ 148 mi) de luvas apenas pela transferência. Mas tem mais. Na tentativa de convencer o brasileiro, o PSG prometeu mundos e fundos. No clube francês, Neymar assumirá o papel que era do Messi, no Barcelona. O jogador terá carta branca para dar pitacos na escalação e esquema tático. O clube também prometeu um time forte nos próximos cinco anos. Somam-se os colegas de Seleção Brasileira com que o jogador vai dividir o campo: o lateral Daniel Alves, recém-contratado, os zagueiros Thiago Silva e Marquinhos, e o atacante Lucas. Daniel Alves, grande amigo de Neymar, deu um empurrão para a transferência.

A troca, claro, não agradou os barcelonistas. Cartazes com a frase “traidor” foram colados em postes próximos ao Camp Nou e o Barcelona se apressou em substituir as fotos do craque que estavam no estádio. Pelo menos um torcedor queimou a camisa 11 com o nome do brasileiro. Os jornais locais também entraram na onda de ódio ao jogador. Mercenário foi o adjetivo mais usado. O catalão “Sport” estampou a manchete “Até nunca!” e disse que ele só pensa em dinheiro. A crítica é, senão ultrapassada, ingênua. Acima das paixões, o dinheiro é o que move o futebol. Em Paris, Neymar e seu clube estão alinhados em uma meta que transcende cifras. Eles querem nada menos que fazer história.

Kamil Zihnioglu