Poucos meses após ter sido aprovado no Congresso Nacional, o novo Ensino Médio avança no País, ainda que num cenário repleto de dúvidas sobre sua implementação. De fato, ainda são muitos os desafios a serem cuidados para que as mudanças possam sair do papel. Mas é alentador saber que, apesar do grave cenário de crise política, há um grande esforço do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação, de secretários de Educação e de instituições e fundações do Terceiro Setor para aterrissar esse novo Ensino Médio no chão de escola.

O caráter, afinal, é de urgência, já que os números são alarmantes: do total de estudantes brasileiros que concluem o Ensino Médio, apenas 7% aprenderam o que seria esperado em Matemática (o que inclui o universo de escolas públicas e particulares). A perda estimada com o abandono escolar alcança cifras de R$ 3,3 bilhões. O Brasil tem hoje cerca de 1 milhão de jovens entre 15 a 17 anos fora da escola e sem realizar nenhuma atividade laboral.

Há várias razões que levam a estes resultados: um currículo engessado, que não dialoga com o mundo do jovem; a falta de professores preparados para os conteúdos que estão ensinando (por exemplo, dos que ensinam a disciplina de Física, 71% não foram formados em Física ou em outra área correlata); além de escolas sem a mínima infraestrutura adequada.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio ainda está em construção no Ministério da Educação, ao contrário das etapas que a antecedem (Educação Infantil e Ensino Fundamental I e II), que já estão no Conselho Nacional de Educação (CNE). Afinal, uma das mais importantes e desafiadoras características do novo Ensino Médio é a flexibilização da oferta, caracterizada pelo que está sendo chamado de itinerários formativos.

E, para colocá-los em prática, isso exigirá não só um novo modelo de gestão das escolas e das redes de ensino, como também uma modernização na infraestrutura, especialmente nas públicas. A tecnologia poderá ser um grande aliado nesse processo, mas é necessário provê-las de internet e de banda larga – algo absolutamente fundamental para aterrissar no chão de escola trabalhos de pesquisa e de análise de conteúdos, por exemplo.

Em minha visão, o grande fio condutor dessa reforma passa pela oferta da Educação Integral, o que inclui o desenvolvimento de habilidades socioemocionais com intencionalidade no ambiente escolar. Não se trata aqui de uma nova disciplina, mas de colocar em prática no processo ensino-aprendizagem os quatro importantes pilares: aprender a ser, aprender a fazer, a prender a conviver e aprender a conhecer.

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Isso, por sua vez, passa pela formação do gestor da escola e dos professores. Felizmente, a versão da BNCC, que se encontra no CNE, já aponta nessa direção com dez diretrizes gerais que consagram a importância dessas competências socioemocionais no contexto de uma formação plena para o século 21.


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