Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, dormiu na quinta-feira 6 como um político enfraquecido dentro de seu país e acordou no dia seguinte como Nobel da Paz. A notícia foi dada ainda de madrugada pelo filho mais velho, Martín, 27 anos. “Agradeço do fundo do meu coração e em nome de todos os colombianos, especialmente as vítimas”, declarou o presidente, que foi homenageado pelos esforços na resolução do conflito armado com as Farc. Reconhecido internacionalmente, Santos, que não é particularmente popular em seu país, havia sofrido enorme derrota no fim de semana anterior. Confiante de que o acordo assinado com o líder dos guerrilheiros, Rodrigo Londoño Echeverri, o “Timochenko”, seria aprovado pela população, convocou um plebiscito e perdeu. O pacto pela paz seria generoso demais com a guerrilha, decidiu a maioria (leia reportagem à página 88, que foi finalizada antes do anúncio do prêmio).

“Nós vivemos como uma montanha-russa na última semana”, disse à ISTOÉ César Rodríguez Garavito, diretor do Dejusticia, centro de estudos de Direito e Justiça de Bogotá. “Passamos de uma quase certeza de que o ‘sim’ ganharia no plebiscito com margem expressiva para um período de incertezas com a vitória do ‘não’.” Para ele, o Nobel representa um impulso no processo de revisão do acordo, que estava se transformando numa disputa entre facções políticas ao redor de temas que pouco têm a ver com o fim da guerra civil. Nos últimos 52 anos, a Colômbia sofreu com a morte de mais de 220 mil pessoas e a violência que criou um enorme contingente de deslocados internos.

Nascido numa família com longa tradição política, Santos, 65 anos, estudou Administração Pública na Universidade de Harvard, nos EUA, e entrou na carreira pública em 1991 como ministro do Comércio Exterior no governo do presidente César Gaviria. Considerado um centrista, colocou a paz como principal meta desde que foi eleito presidente pela primeira vez, em 2010. Para isso, rompeu com o antecessor, Álvaro Uribe, de quem foi ministro da Defesa, época em que liderou intensos ataques contra os líderes rebeldes. Isso porque, já empossado, Santos se reuniu secretamente com o então presidente venezuelano Hugo Chávez, inimigo do ex-chefe, para mediar o diálogo com a guerrilha. Agora Santos e Uribe estão trabalhando juntos para revisarem o acordo que foi rejeitado pelos eleitores. “A paz será muito mais forte e duradoura se for apoiada por cada um dos colombianos”, disse o presidente. Porta-voz das Farc nas negociações em Havana, Cuba, “Timochenko” ficou de fora da premiação.

“A paz será muito mais forte e duradoura se for apoiada por cada um dos colombianos”
Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia


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