China 1989/Mundo

Na madrugada de 3 para 4 de junho de 1989, uma multidão protestava na Praça da Paz Celestial, na China. As pessoas pediam mais abertura política, num momento em que o mundo comunista se aproximava do colapso. Meses depois, cairia o Muro de Berlim, mas a população de Pequim não pôde experimentar as mudanças pelas quais passariam os alemães. Ao contrário, centenas, talvez milhares de manifestantes não chegaram sequer a viver o dia seguinte. Um número incerto de pessoas foi executado após o governo mandar ao local tropas com ordem para matar. “A imagem do homem parado na frente de uma coluna de tanques simbolizou que indivíduos poderiam desafiar governos”, diz Oliver Stuenkel, 34 anos, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. “Mas as expectativas da época foram frustradas.”

Potência

Desde então, a China viveu um intenso desenvolvimento econômico. Reformas foram iniciadas nos anos 1970, após a morte de Mao Tsé-Tung. Os primeiros efeitos aparecerem na década seguinte. Mas foi só depois do massacre que ficou claro para a comunidade internacional que o país havia criado os fundamentos para se tornar uma liderança. Taxas de crescimento superiores a 10% anuais ao longo de duas décadas fizeram com que ela deixasse para trás o rol dos pobres e se tornasse a segunda maior potência do mundo. Hoje, está em vias de ultrapassar os Estados Unidos em relevância política e financeira. “Durante os protestos da Praça da Paz Celestial o governo tomou um susto muito grande”, afirma Stuenkel. “E percebeu que só por meio do crescimento econômico o partido comunista poderia manter a legitimidade.”

Por outro lado, o governo chinês viu o episódio como uma grande motivação para aumentar a repressão. Politicamente, houve regressão. As vozes moderadas chinesas perderam força após o massacre. Até hoje, uma pesada censura interna recai sobre o massacre. “Muitos chineses não têm conhecimento sobre o que ocorreu”, diz Stuenkel. “Existe uma tentativa sistemática de apagar esse dia da memória nacional.”

“Muitos chineses não têm conhecimento sobre o que ocorreu. Existe uma tentativa sistemática de apagar esse dia da memória nacional” Oliver Stuenkel, 34 anos, professor de relações internacionais da FGV-SP
“Muitos chineses não têm conhecimento sobre o que ocorreu. Existe uma tentativa sistemática de apagar esse dia da memória nacional” Oliver Stuenkel, 34 anos, professor de relações internacionais da FGV-SP


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