Copa do Mundo 2014/Brasil

Foi uma Copa do Mundo inesquecível. Para o bem e para o mal. Em 2007, os brasileiros comemoraram à exaustão a escolha do País para sediar o maior evento do futebol mundial. Parecia que a taça estava garantida. Único país a ter participado de todas as Copas, o Brasil vivia em plena euforia. A economia crescia, uma nova classe média passara a consumir como nunca e o emprego era pleno. Até que as insatisfações começaram. Gastos recordes de um lado, serviços públicos péssimos de outro e um início de recessão levaram os brasileiros às ruas. Durante a Copa das Confederações, em 2013, manifestantes carregavam cartazes com os dizeres: “Copa é prioridade, Brasil?”, “Da Copa eu abro mão, quero dinheiro para a saúde e educação” e o clássico “Queremos hospitais padrão FIFA”.

Turistas satisfeitos

Com os protestos nas portas dos estádios, a já desgastada presidente Dilma Rousseff pediu “alegria e civilidade” aos brasileiros. Apesar das vaias que ela recebeu em cada um dos jogos em que aparecia, os estrangeiros foram bem-recebidos nas 12 cidades-sede do evento. Mais de três milhões de ingressos foram vendidos e a Copa seguiu sem grandes percalços. A segurança pública foi aprovada por 92% dos estrangeiros — e 95% disseram ter a intenção de visitar novamente o País. O maior estrago, porém, aconteceu dentro do campo: a seleção brasileira perdeu para a Alemanha nas semifinais, por um histórico placar de 7 a 1. Na final, contra a Argentina, a Alemanha conquistou seu quarto título mundial.

“A Copa de 2014 era muito mais do que futebol”, diz Juliana Barbassa, 41 anos, autora de “Dancing with the devil in the City of God”. “A seleção carregava um peso muito maior do que ganhar a Copa ou reverter o Maracanaço [quando o Brasil perdeu a final da Copa de 1950]: todas as expectativas de mostrar que o País finalmente havia chegado a um patamar mundial de qualidade estavam penduradas no futebol.”

Nascida no Brasil, Juliana viveu no exterior e voltou ao País em 2010, como correspondente da Associated Press, para acompanhar o bom momento econômico brasileiro. “Quando Neymar foi machucado no jogo contra a Colômbia, parecia que o time se esfacelava”, diz ela. Sem o atacante, no fatídico jogo seguinte, a seleção sofreu uma pane, numa espécie de paralelo com o País, segundo Juliana. “A Lava Jato já havia começado e viam-se em todo o lugar as rupturas na promessa brasileira”, diz ela. “Foi um momento doloroso, mas perder é mais interessante do que ganhar: se a seleção tivesse vencido, talvez não houvesse espaço para que os brasileiros questionassem sobre qual País desejam, como se viu depois.”

“Se a seleção tivesse vencido, talvez não houvesse espaço para que os brasileiros questionassem o País que desejam” Juliana Barbassa, 41 anos, autora de “Dancing With the Devil in the City of God”
“Se a seleção tivesse vencido, talvez não houvesse espaço para que os brasileiros questionassem o País que desejam” Juliana Barbassa, 41 anos, autora de “Dancing With the Devil in the City of God”