Para o público que daqui a dois meses vai assistir a Elle, o impacto inicial do deslumbrante thriller do holandês Paul Verhoeven poderá ser afetado pelo simples fato de que o espectador poderá dizer – “Já vi isso.” E viu em O Silêncio do Céu, longa do brasileiro Marco Dutra que estreia nesta quinta, 22, em 20 salas de quatro capitais – São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre. Ambos os filmes começam com cenas de estupro.

Isabelle Huppert, em Elle; Carolina Dieckmann, em O Silêncio do Céu. As imagens fundadoras são as mesmas, mas logo cada filme toma seu rumo, e eles são bem diferentes.

No longa brasileiro, filmado no Uruguai e falado em espanhol (portunhol, por Carolina), o marido chega, percebe que algo se passa dentro da casa. Espia pela janela e flagra o estupro. Em vez de reagir – partir para o grito, brigar -, Leonardo Sbaraglia fica congelado. Paralisa. Como?

Covarde – o leitor que acompanha o texto já deve ter pensado, rotulado. Mas logo vem, não exatamente de forma didática, a justificativa. O marido sofre de fobias. E assim se cria o estranhamento de O Silêncio do Céu. Os estupradores fogem, a mulher recompõe-se. Cala, como se nada tivesse ocorrido. O marido também não diz nada, cala-se. Tentam levar a vida adiante, mas o silêncio é opressivo. O não dito interpõe-se na relação. E só então o marido começa a reagir. Vai atrás dos estupradores, e irrompe na família deles. Em Gramado, onde o filme recebeu o prêmio especial do júri e da crítica, mais um Kikito de desenho de som, o diretor contou a gênese de O Silêncio do Céu. Foi abordado pelo produtor Rodrigo Teixeira, que lhe propôs o filme escrito pela cineasta argentina Lucia Puenzo com seu marido, Sergio Bizzio.

É uma adaptação de Era el Cielo, livro do próprio Bizzio. Escreveram o roteiro, mas a produção não foi adiante. Entrou a RT, e Rodrigo achou que o projeto tinha a cara de Marco Dutra, diretor de Trabalhar Cansa e Quando Eu Era Vivo. Dutra chamou um amigo, o roteirista Caetano Gotardo, para mudar algumas coisas, e adequar O Silêncio do Céu à sua visão de cinema, e de mundo. A versão de Bizzio e Lucia tinha um final redentor. Ele foi mais sombrio. Partiu para o trágico. Leonardo Sbaraglia, que faz o marido, diz que foi o que mais o atraiu. Tem toda razão – o filme é muito forte.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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