O horário do ataque terrorista em São Petersburgo, na Rússia, na segunda-feira 3, foi o mesmo do atentado há duas semanas em Londres: 14h40, hora local. Além dessa coincidência, há outra, mais importante, que contribui para dificultar ainda mais o combate do terrorismo no mundo e que coloca em evidência alguns dos equívocos mais comuns dos tempos atuais: na Rússia, assim como na Inglaterra, o inimigo estava em casa. O suspeito de autoria do atentado da semana passada é Akbarzhon Jalilov, nascido no Quirguistão, país da ex-União Soviética, mas cidadão russo e morador do país há anos. Na capital inglesa, o responsável pelo ataque que resultou em quatro mortes foi Khalid Massood, natural de uma cidade a 25 quilômetros do centro londrino.

A constatação de que o terror vem sendo causado por pessoas que moram nos países atacados e não estrangeiros que se misturam às levas de refugiados derruba argumentos xenófobos, de quem defende que a culpa pelo Ocidente estar acuado é de quem vem de fora. Também requer um trabalho cuidadoso das autoridades, pois identificar a ameaça dentro de casa às vezes é mais difícil.

CRIME Akbarzhon Jalilov, cidadão russo, principal suspeito
CRIME Akbarzhon Jalilov, cidadão russo, principal suspeito

O atentado em São Petersburgo levantou outros questionamentos. A Rússia se prepara para abrigar dois eventos de repercussão mundial: a Copa das Confederações, que começa em junho, e a Copa do Mundo, no ano que vem. Eleições presidenciais também estão no cronograma. O temor é de que ataques terroristas se repitam durante algum desses acontecimentos.

Tudo dependerá do futuro da política no país, comandada por Vladimir Putin. Acusado de uma postura ditatorial, ele é alvo permanente de críticas e ameaças. Não foi coincidência o ataque em São Petersburgo ter acontecido no mesmo dia de sua visita à cidade. “É uma mensagem para afligir a cidade enquanto ele estivesse lá”, diz Nina Khrushcheva, especialista em Política e História da Rússia Contemporânea da Universidade The New School, em Nova York. “As ações antiterroristas visam alcançar objetivos políticos. Infelizmente a política sempre é colocada à frente da segurança.”

O terror é local
Em ataques recentes, cidadãos dos próprios países foram os autores dos crimes

Rússia, 2017
Akbarzhon Jalilov , 22 anos, é suspeito do ataque no metrô de São Petersburgo que deixou 14 pessoas mortas e 49 feridas. Nasceu no Quirguistão, país da ex-URSS, mas era cidadão russo

Inglaterra, 2017
Khalid Massood, 52 anos, foi o responsável pelo ataque em Londres em março que deixou quatro mortos e 40 feridos. Massood nasceu em Dartford, a 25 km do centro da capital britânica

França, 2015
Omar Ismail Mostefai, 29 anos, participou de um dos mais dramáticos ataques terroristas dos últimos anos em Paris, quando 129 pessoas morreram e 350 ficaram feridas. Mostefai nasceu e foi criado em Courcouronnes, a 25 km de Paris