Quando a Guerra Fria terminou, com a derrota humilhante do socialismo, Francis Fukuyama chegou a falar do “fim da história”. O que ele queria dizer é que as democracias liberais tinham vencido e se mostravam a única alternativa de modelo ao mundo. Na era da globalização, era competir no livre mercado ou sucumbir. Tamanho otimismo não era compartilhado por gente como Samuel Huntington. Para ele, haveria um “confronto de civilizações”, e, sem o socialismo como denominador comum, certos povos teriam nas diferenças culturais seu foco de antagonismo. Não deu outra: basta pensar na guerra que o Islã tem declarado aos valores ocidentais.

Por adotarem um mapa equivocado, muitos analistas têm usado o Brexit e a vitória de Donald Trump para alertar sobre a crise das democracias liberais e da globalização. Como há perdedores nesse mundo competitivo, especialmente nas classes médias industriais, o ressentimento seria o combustível para esses “nacionalismos populistas”. Como em toda mentira bem contada, há uma parcela de verdade nisso. Sim, algumas pessoas viram sua qualidade de vida piorar com a globalização, ou o hiato com os mais ricos aumentar, e estão incomodadas. Mas esse não é o grosso do fenômeno. Há o fator cultural que não pode ser ignorado. E é aqui que esses analistas cometem o grave erro de interpretação.

O que vem sendo atacado não é tanto a democracia liberal ou a globalização, e sim o politicamente correto, o multiculturalismo, o intervencionismo crescente dos estados em nossas vidas. Ou seja, o esquerdismo! Quando falam em liberalismo citando Barack Obama como exemplo, ou em globalização usando George Soros como ícone, estão falando besteira. Não entenderam nada. Bruxelas no caso do Brexit não era sinônimo de globalização, mas de um excessivo poder concentrado na burocracia sem rosto. Obama e Hillary Clinton não representam a globalização, mas um “globalismo” coordenado, comandado de cima, por gente como Soros, o especulador bilionário que financia as esquerdas do mundo todo. O que isso tem de liberal? Nos Estados Unidos, a esquerda “progressista” usurpou o termo liberal, e nossa imprensa adota esse conceito sem crítica. O que está deixando o homem comum indignado não é o liberalismo e seu escopo mundial (globalização), e sim esses governantes com discursos sensacionalistas, que pretendem cuidar de cada um, do berço ao túmulo. É o “welfare state” que está sob ataque. O “capitalismo de compadres”. A negligência com o terrorismo islâmico. A “marcha das minorias oprimidas”. Enfim, é a esquerda politicamente correta, não a democracia liberal ou a globalização. Quem não entender isso vai continuar errando todas as previsões e depois ficar surpreso com os resultados “inesperados”.