Na foto acima estão cinco dos mais poderosos mandatários mundiais. Eles se reuniram na Alemanha, em abril, para discutir questões que apavoram a Europa: o conflito na Síria, os imigrantes ilegais e o baixo crescimento econômico da zona do euro. Em menos de um ano, apenas a chanceler alemã Angela Merkel poderá seguir decidindo sobre esses temas. David Cameron saiu do cargo em junho após a vitória do Brexit no Reino Unido. Barack Obama acaba seu segundo mandato presidencial nos Estados Unidos e será sucedido por Donald Trump. François Hollande já anunciou que não disputará a reeleição na França. E o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, pediu demissão na quarta-feira 7 após sair derrotado em um referendo de reforma constitucional. Com esse quarteto fora, ganham força líderes populistas com muito ódio no discurso. “Essa é a maior crise que a democracia está passando nas últimas décadas”, diz Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.

A saída de Renzi é o mais recente exemplo dessa crise. Ele havia convocado o referendo para decidir mudanças constitucionais destinadas a modernizar o sistema político italiano, incluindo alterações na composição do parlamento e na forma como as leis são aprovadas. Na prática, a eleição se transformou num libelo de desaprovação do primeiro-ministro e de suas medidas pró-Europa. Derrotado, Renzi anunciou sua renúncia. Os grandes vencedores foram organizações que fizeram campanha contra o premiê: o Movimento Cinco Estrelas, liderado por um comediante crítico à União Europeia; e a Liga do Norte, de extrema direita, com discurso de ódio aos imigrantes. Com a saída de Renzi, as eleições devem ser antecipadas — e entre os favoritos ao pleito está o Cinco Estrelas.

MODERADO Van der Bellen, eleito presidente da Áustria: vitória apertada

O próximo ano acena com retrocessos não só na Itália. Na França, a nacionalista Marine Le Pen é umas das favoritas para a eleição presidencial de 2017. Angela Merkel deve se reeleger na Alemanha, mas o partido de extrema direita AFD vem crescendo nas pesquisas de opinião e pode conquistar cadeiras no Parlamento. Na Holanda, os radicais de direita do PVV, com promessas como a de banir mesquitas do país, também conquistam eleitores. “Depois da crise de 2008, houve degradação do estilo de vida. Isso criou um impacto muito evidente”, afirma Terra Budini, professora de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Os piores efeitos serão sentidos pelos imigrantes que vivem no continente europei, mas o restante da população também será prejudicada

Rússia e china

As consequências podem ser nefastas. Os piores efeitos serão sentidos pelos imigrantes estrangeiros que vivem no continente, mas o restante da população também deve ser prejudicada pelo avanço do populismo. As más condições dos bancos italianos preocupam, pois eles precisam desesperadamente de investimentos estrangeiros — desafio para o qual instabilidade interna e aversão ao bloco econômico não ajudam em nada. O medo é que líderes amalucados colapsem o sistema financeiro e acabem com a União Europeia, o que aumentaria o poder de Rússia e China. “Partidos populistas geralmente fracassam”, diz Stuenkel, da FGV. Infelizmente, não sem antes deixar a terra arrasada.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Um respiro para a Europa 

O candidato de extrema-direita Norbert Hofer, do Partido da Liberdade, perdeu no domingo 4 a eleição para presidente da Áustria. A diferença entre ele e seu concorrente era enorme: o vencedor Alexander Van der Bellen, do Partido Verde, é dono de uma retórica moderada e de um falar suave. Essas características, aliadas aos seus 72 anos de idade, lhe deram um ar de vovô cordial, o que ajudou no êxito por cerca de 7% dos votos. Já Hofer faz parte de uma legenda fundada em 1950 por ex-nazistas austríacos. Mesmo assim, a eleição foi uma das mais disputadas da história do País, o que mostra a força do populismo mesmo onde ele foi derrotado. “É importante como forma de resistência, mas seria um exagero dizer que o resultado fará grande diferença para a União Europeia ou para o mundo”, diz Terra Budini, da PUC-SP.

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias