Um ano depois dos Jogos do Rio, o esporte brasileiro respira. Nos últimos dias, uma série de resultados positivos mostrou que, ao contrário do que pregavam os pessimistas de sempre, a ressaca da Olimpíada não produziu uma tragédia. No Mundial de Natação de Budapeste, na Hungria, o Brasil deixou para trás o fiasco de 2016. No Mundial de Atletismo de Londres, uma nova geração apareceu. O vôlei feminino, que parecia fadado ao declínio, ressurgiu com a conquista do Grand Prix. O basquete masculino começou a andar com uma seleção de jovens talentos. No judô e na vela, tradicionais provedores de medalhas para o Brasil, mais conquistas vieram.

Por mais que os defensores do apocalipse apontassem para um longo período de sombras, a escuridão não veio. “Que alívio esquecer a Olimpíada e obter o melhor resultado da minha carreira”, diz a velocista Rosângela Santos, primeira brasileira a disputar uma final dos 100m em uma edição do Mundial de Atletismo. Ao cravar 10,91 segundos na semifinal, Rosângela quebrou o recorde sul-americano e se tornou a única atleta do País a correr a distância em menos de 11 segundos. Na decisão da prova, terminou em sétimo. Parece pouco, mas é muito: trata-se, afinal, da sétima mulher mais rápida do mundo. Melhor ainda: Rosângela está em ascensão.

QUEDA DOS INVESTIMENTOS

É inegável que a Olimpíada representou uma decepção. O Brasil estipulou uma meta que parecia realizável: terminou os Jogos entre os dez primeiros colocados no quadro de medalhas. Acabou em 13º, apesar da avalanche de investimentos, da contratação de técnicos estrangeiros e de uma preparação que, acreditava-se, estaria entre as melhores do mundo. Para tornar o futuro mais nebuloso, a crise econômica se agravou. Com o fim da Olimpíada e a instabilidade do País, os patrocínios esportivos despencaram. Estima-se que, em 2017, eles tenham encolhido pelo menos 40%, de volta para os patamares de uma década atrás. Os programas federais também recuaram. Pela primeira vez em cinco anos, o Ministério do Esporte não lançou, no primeiro semestre, edital para concessão de Bolsa Atleta. No orçamento previsto para o ano todo, a verba do programa caiu 13%, o que significou um corte de R$ 11 milhões. O triste destino das arenas olímpicas do Rio, abandonadas e em rápido processo de deterioração, parecia ser a metáfora perfeita para o fim do sonho esportivo brasileiro. E, mesmo assim, os resultados vieram. O que explica o milagre?

A primeira razão é óbvia. No esporte, não se joga fora o que foi plantado nas temporadas anteriores. De certa forma, os resultados de agora se devem aos investimentos pré-Olimpíada. “A Confederação tem proporcionado ao longo dos últimos anos uma boa estrutura e nós conseguimos mantê-la”, diz Ricardo Prado, coordenador-geral de esportes da CBDA, entidade máxima da natação no Brasil. Outra explicação, embora não debatida em público por gestores, treinadores e atletas, tem a ver com o lado psicológico. Em 2017, os atletas competem sem o peso de disputar uma Olimpíada em casa. Um caso clássico é o do nadador Bruno Fratus. Como indicavam suas marcas, ele era um dos favoritos ao ouro nos 50m na Olimpíada. Deslumbrado, Fratus deixou-se levar pela empolgação e fracassou no ano passado. No Mundial de Budapeste, há três semanas, brilhou com a prata na mesma prova. Mudanças de ares também costumam surtir efeito. Rosângela Santos trocou Miami para treinar com atletas de nível mais alto em Houston, nos Estados Unidos. No esporte, isso força quem está atrás a buscar marcas melhores. Rosângela é também o retrato das agruras brasileiras. Para se manter nos Estados Unidos, ela fez, sem sucesso, uma vaquinha virtual. Agora, pensa em trabalhar como motorista de Uber.

No topo
Os resultados positivos em 2017

*No Mundial de Atletismo de Londres, Rosângela Santos se tornou a primeira brasileira a disputar uma final dos 100m rasos e Thiago André quebrou um jejum de 14 anos sem finalistas do Brasil na prova dos 800m.

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*No Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste, o Brasil fez a segunda melhor campanha de sua história. Foram oito pódios no total (2 ouros, 4 pratas e 2 bronzes). Destaque para as campeãs Etiene Medeiros (50m costas) e Ana Marcela Cunha (maratona aquática de 25 km)

*Depois da decepção nos Jogos do Rio, quando foi eliminada nas quartas-de-final, a renovada seleção feminina de vôlei faturou o Grand Prix pela 12ª vez.

*A nova dupla masculina de vôlei de praia manteve o Brasil imbatível no esporte. Evandro e André conquistaram o ouro no Mundial da Aústria

Bolt sabe perder

Matt Dunham

O jamaicano Usain Bolt, o maior atleta da história, abandonou as pistas no Mundial de Londres. Ele ficou em terceiro na final dos 100m, sua última prova individual, mas festejou como se tivesse sido campeão. Também foi notável o gesto do homem que o derrotou, o americano Justin Gatlin. Depois de levar o ouro, Gatlin ajoelhou-se para reverenciar Bolt. A cena não será esquecida.


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