Bebês morrendo congelados, corpos de meninos afogados que o mar devolveu às praias, grávidas agonizando em barcos, homens doentes. Todos com fome. Já nos acostumamos a essas desumanas imagens, já a banalizamos ou elas ainda nos chocam? Há dois anos o mundo vive a pior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial. São 21 milhões de seres humanos que se viram obrigados, pela guerra, miséria e perseguição, a deixar para trás suas casas em busca apenas da sobrevivência em outro país. Na semana passada, somente a Itália resgatou oito mil pessoas do Canal da Sicília, entre elas a pequena criança da foto acima, salva pelos próprios refugiados. A maioria dos países que poderiam ser-lhes hospitaleiros não conseguem chegar a um consenso para solucionar a questão e apenas trinta deles desenvolvem algum tipo de programa de acolhimento — segundo a Anistia Internacional, seria necessário que noventa nações colaborassem com a causa humanitária e que cada um recebesse anualmente 10% da população refugiada global. Líderes que tentaram romper com a intolerância, como a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, perderam popularidade; e países avançados em suas políticas externas, como a Inglaterra e a França, recorreram a barreiras políticas e físicas para dificultar o acesso de estrangeiros. Derrubar o preconceito e a falta de tolerância é missão de todos nós, e é esse mesmo desafio que se impõe ao próximo secretário-geral da ONU, o ex-premiê de Portugal António Guterres, que assumirá o posto daqui a três meses