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A deputada distrital Liliane Roriz (PTB-DF), filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, foi personagem central do último escândalo político de Brasília, após gravar conversas com a presidente da Câmara Legislativa do DF, Celina Leão (PPS), sobre um suposto esquema de propina em contratos da área da saúde. Celina acabou afastada do cargo por ordem judicial. Nos áudios entregues espontaneamente pela filha mais nova do clã Roriz, Celina tenta tranqüilizar Liliane, afirmando que ela estaria dentro do projeto. “Você tá no projeto. Mandei o Valério (Neves, ex-secretário geral da Câmara Legislativa) já falar com você”, disse Leão. O “projeto”, segundo Liliane, tratava-se do pagamento de propina a cinco deputados distritais por empresários beneficiados por uma emenda parlamentar aprovada no apagar das luzes, em 2015, que tirou R$ 30 milhões da educação e destinou para a saúde. O dinheiro, porém, acabou destinado ao pagamento dos contratos com empresas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), cujo pagamento estava em atraso. Um depoimento inédito de um ex-funcionário tomado pelos investigadores agora também pode implicar Liliane no esquema.

José Adenauer Aragão de Lima era secretário-executivo da vice-presidência da Câmara Legislativa, cargo ocupado por Liliane. Em depoimento ao Ministério Público do Distrito Federal, Adenauer admitiu que foi responsável por redigir uma mudança na emenda parlamentar, destinando os recursos ao setor que gerou os desvios. Depois de alterar o texto, Adenauer afirmou que “conversou com a deputada Liliane Roriz em plenário” sobre o assunto. Liliane, então, teria procurado Celina para saber o que estava ocorrendo. O servidor disse aos promotores que, após essa conversa, “ambas aprovaram a emenda”.

Até então, Liliane negava participação na aprovação e elaboração da emenda. O depoimento do servidor contradiz o discurso da deputada. Depois Liliane procurou Valério para saber o porquê da nova mudança na emenda. Sem saber que estava sendo gravado por Liliane, Valério explica a ela que o deputado Cristiano Araújo (PSD) “arrumou aquela parceria com as UTIs, e que nessa UTI teria (compromisso)”. O compromisso seria o pagamento de propina. De delatora à acusada, Liliane agora terá de dar explicações.

Deputados do DF receberiam propinas para liberar recursos para empresas de UTIs

Foto: Sergio Lima/Folhapress