O Chilesaurus, um herbívoro com a aparência aterradora de um carnívoro, pode ser o “elo perdido” entre duas famílias de dinossauros, revela um estudo publicado nesta quarta-feira, que revisa a genealogia destas criaturas.

“O Chilesaurus contribui realmente para preencher um intervalo evolutivo entre dois grandes grupos de dinossauros”, explicou à AFP o coautor do estudo, Paul Barrett, acadêmico do Museu de História Natural de Londres.

“Esta descoberta nos ajuda a compreender como um tipo de dinossauro se transformou em outro tipo completamente diferente”.

Barrett qualificou o dinossauro como um dos “mais desconcertantes e fascinantes” jamais descobertos.

Os restos fósseis foram encontrados no sul do Chile em fevereiro de 2004 por um menino de sete anos.

Desde então, não faltaram adjetivos para descrever a extraordinária descoberta, de “Frankenstein” a ” ornitorrinco dos dinossauros”.

O Chilesaurus diegosuarezi, que viveu no final do período jurássico, há 150 milhões de anos, cativou os especialistas por “parecer ser formado a partir de vários animais diferentes”, revelou um entusiasmado Paul Barrett.

Um exemplo é sua cabeça típica de um carnívoro, mas com uma dentadura voltada para triturar vegetação.

Em um estudo anterior, publicado em 2015, os pesquisadores colocaram o animal na família dos terópodes, por sua aparência, em uma classificação que inclui o Tiranossauro e o Velociraptor.

Mas após terem estudado mais de 450 características anatômicas de dinossauros primitivos, Paul Barrett e seu colega Matthew Baron, da Universidade de Cambridge, concluíram que o animal pertence a família dos ornitisquios, ao lado de Triceratops e Estegossauros.

“O Chilesaurus parecia, a princípio, um membro antigo da linha dos terópodes, mas era suspeito que tivesse todas estas adaptações para comer vegetação”, explicou Barrett à AFP sobre o estudo publicado na revista Proceedings of the Royal Society B.

Os pesquisadores pensam que o Chilesaurus pode ostentar o título de “elo perdido” entre os dinossauros herbívoros e os terópodes.

“Estes dois grupos compartilharam uma ascendência comum que data de 220 a 225 milhões de anos”, explicou Barrett. “Este ancestral comum deu origem a dois grupos: os terópodes, comedores de carne, e os ornitisquios, vegetarianos”.

Segundo o estudo, o Chilesaurus pode ser uma transição.

“O Chilesaurus mostra como um animal que parece uma espécie carnívora de duas patas pôde se transformar em algo que começa a se tornar um comedor de plantas”, disse Barrett.

Este estudo se soma a uma pesquisa publicada em março que questiona a classificação dos dinossauros.

Há 100 anos, os cientistas dividem os dinossauros em dois grandes grupos: os Saurísquios (que incluem os terópodes) e os ornitisquios.

Os dois pesquisadores questionavam esta classificação afirmando que os terópodes e os ornitisquios pertenciam ao mesmo grupo.

“O Chilesaurus nos reafirma que esta ideia de reordenação está correta, já que possui características de ambos os grupos”, concluiu Barrett.