A  crise política se aprofunda. E a recuperação econômica é mais lenta do que o esperado. A conclusão do processo de impeachment não abriu um cenário de céu de brigadeiro. As tensões permanecem. Qualquer saída política dentro da velha tradição brasileira, a conciliação pelo alto, desta vez, é impossível.

O Brasil mudou. E a elite político-econômica não percebeu. Acredita que – como das outras vezes ao longo da história republicana – é possível obter um rearranjo no poder para que tudo continue como dantes. Uma reacomodação sem uma alteração real na ação política e, especialmente, no funcionamento dos poderes do Estado democrático de Direito.

As grandes mobilizações de 2015 e 2016 – as maiores da história do Brasil – recolocaram a sociedade civil em confronto com o Estado. Hoje, a auto-organização transformou a cidadania em agente ativo. Foi-se a época em que a política era assunto exclusivo dos políticos profissionais. Com as redes sociais e o surgimento de movimentos autônomos de participação e controle da coisa pública, a república começou a se desenhar como algo concreto, onde o cidadão é o agente da sua própria história.

Neste universo marcado pelo novo, a velha sociedade política não consegue mais ter lugar. Resiste, mas será derrotada. O brasileiro subserviente, do “sim, senhor,” não mais existe. O movimento que levou a queda do projeto criminoso de poder – algo pouco provável no início desse ano – desestabilizou uma forma de dominação política que petrificou as instâncias de participação criadas pela Constituição de 1988. Agora, os direitos constitucionais não são mais simplesmente consagrados na Carta Magna, são exercidos de forma plena.

Com as redes sociais e o surgimento de movimentos autônomos de participação e controle da coisa pública,
a república começou a se desenhar como algo concreto, onde o cidadão é o agente da sua própria história

Estas mudanças deixaram a velha elite político-econômica atônita. Ninguém sabe, com certeza, o que vai ocorrer amanhã. A defesa de uma república democrática na prática cotidiana tem acirrado a crise. O desespero de Renan Calheiros não é um ponto fora da curva. A inoperância do STF também. E a dificuldade que o Palácio do Planalto está encontrando para recolocar o país nos trilhos é mera consequência desse novo tempo.

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A Praça dos Três Poderes insiste em permanecer de costas para o Brasil. Imagina que seja possível governar sem a participação dos cidadãos. Vai fracassar. E a crise vai se aprofundar.


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