O fluxo da história se acelerou nos últimos dias e os brasileiros assistem ao colapso da Nova República, inaugurada com o fim do regime militar, em 1985. As cenas e os acontecimentos recentes revelam os estertores da curta democracia brasileira, que sobreviveu apenas por trinta anos.

Em Brasília, todos os movimentos desnudam o desespero da classe política, que tenta se salvar de um naufrágio inevitável. Ao indicar seu ministro Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal, Michel Temer fez um agrado à sua verdadeira base de apoio: os políticos implicados na Lava Jato. Em paralelo, no Senado, a indicação do senador Edison Lobão (PMDB-MA), um dos mais encrencados, para a Comissão de Constituição e Justiça é autoexplicativa e dispensa comentários.
O Brasil real, no entanto, deu as caras em Vitória e em diversas outras cidades do Espírito Santo, onde já há uma intervenção militar, desde que policiais suspenderam o trabalho e mais de cem pessoas morreram. Num clima de pânico, uma parte da população se refugiou em casa, enquanto outra decidiu saquear lojas e supermercados. Inflexível, o governador Paulo Hartung, do PMDB, determinou o indiciamento de setecentos policiais por revolta, sujeitando-os a penas que podem chegar a vinte anos de prisão.

Não muito longe dali, no Rio de Janeiro, o centro da cidade foi transformado em praça de guerra, com os protestos de servidores que não recebem há meses os seus salários em dia. E quem comanda o estado é um governador que está prestes a se tornar réu: Luiz Fernando Pezão, do PMDB, que foi denunciado por propinas no esquema de Sergio Cabral e também está citado na Lava Jato.

Outro político do Rio de Janeiro, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, foi apontado pela Polícia Federal como uma espécie de despachante de luxo da empreiteira OAS, oferecendo emendas parlamentares em troca de doações eleitorais milionárias.

Maia pretendia – e ainda pretende – entrar para a história como o chefe do Legislativo que conduziu uma profunda agenda de reformas estruturais. No entanto, como alvo da PF, dificilmente ele terá força e legitimidade para conduzir uma reforma da Previdência,  que amplia a idade mínima para sessenta e cinco anos. Não por acaso, na noite da última quarta-feira 8, policiais civis invadiram a Câmara para dar o seu recado.

O Brasil entrou em colapso, a Nova República está chegando ao fim e a grande dúvida, a partir de agora, é saber qual será a natureza do novo regime. Será que ainda há tempo de salvar a democracia após tanta tragédia?

Enquanto políticos tentam se salvar, o Rio vira praça de guerra e militares já intervêm no Espírito Santo