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A ex-miss Califórnia Nicole Johnson está na primeira fila de cadeiras do Centro de Esportes Aquáticos do Rio, a apenas 10 metros de distância da piscina onde Michael Phelps, o maior atleta de todos os tempos, mais uma vez fará história. Nicole traz no colo o pequeno Boomer, o filho de três meses que ela tem com Phelps, e parece mais ansiosa do que os 12 mil torcedores que estão ali para ver o americano. Como quase sempre, Phelps ganha a prova, os 200 m borboleta. Trata-se de seu 21º ouro em Olimpíadas, algo jamais alcançado por qualquer atleta, de qualquer esporte. Aos 31 anos e 40 dias, ele quebra uma escrita de quase um século e passa a ser o homem mais velho a vencer uma prova olímpica individual de natação. Phelps está acostumado à glória, mas desta vez é diferente. As pessoas gritam e choram nas arquibancadas. Os rivais o reverenciam. Os jornalistas enlouquecem. Ele, então, encaminha-se para a cadeira onde estão Nicole e Boomer. De olhos marejados, beija as duas pessoas que transformaram a sua vida. O homem que há 2 anos estava internado em um centro de reabilitação para alcoólatras é agora uma lenda eterna.

Dose de humanidade
O Rio de Janeiro viu na semana passada um Phelps mudado. O supercampeão de ar indiferente e às vezes arrogante se tornou um ser humano mais sensível. Ele segura as lágrimas no pódio, faz juras de amor a Nicole e até interage com a torcida. Se no campo esportivo já tinha alcançado tudo o que um atleta pode almejar, faltava a Phelps certa dose de humanidade. E ela veio depois de muito sofrimento. “

Eu estava perdido, sem vontade para nada, e até me sentia a pessoa mais triste do mundo”, disse ele em uma entrevista recente. “Agora a minha vida tem razão de ser.”

Não é fácil conquistar tanta coisa precocemente, ser chamado de fenômeno na adolescência, não conhecer ninguém capaz de ameaçá-lo e ter o dinheiro que a maioria das pessoas jamais sonhou em ganhar. Depois dos Jogos de Londres-2012, quando faturou quatro ouros e duas pratas, Phelps mergulhou no vazio. Sem disposição para treinar, começou a beber e a usar drogas. Na fase mais sombria, foi preso por dirigir embriagado. O drama só passou depois de uma temporada em uma clínica especializada no combate ao alcoolismo. A grande mudança, porém, se deve a Nicole e, agora, a Boomer. “A Nicole me tirou do fundo do poço e o Boomer me encheu de luz”, disse um poético Phelphs, no Rio. Essa foi a sua maior conquista.