Pouca gente sabe, mas, em seu primeiro mandato, a presidente Dilma Rousseff produziu fartos superávits fiscais, com 2,94% do PIB em 2011, 2,18% em 2012 e 1,72% em 2013. Apenas em 2014, com a retração da economia global e em especial dos preços do petróleo, houve um déficit de R$ 17,2 bilhões, equivalente a 0,57% do PIB.

Em 2015, ciente da nova realidade fiscal, Dilma substituiu Guido Mantega por Joaquim Levy e estava disposta a zerar esse pequeno rombo, com um ajuste ortodoxo que previa a volta da CPMF e também uma pequena reforma da Previdência.
O que aconteceu depois disso, no entanto, já é história. PMDB e PSDB, nas figuras de Eduardo Cunha e Aécio Neves, se aliaram para sabotar todas as iniciativas do governo federal, promovendo a política do “quanto pior, melhor” com suas pautas-bomba. Resultado: não houve ajuste e o Brasil fechou 2015 — ano em que Dilma, na prática, não governou — com um déficit de R$ 115 bilhões.

Veio 2016 e as contas públicas pioraram ainda mais. Embora o discurso da coalizão que promoveu o impeachment sem crime de responsabilidade fosse o da seriedade fiscal, o rombo foi de R$ 154 bilhões, dentro de uma meta generosa de déficit de R$ 179 bilhões que Michel Temer aprovou junto à sua base fisiológica. Curiosamente, enquanto falava em ajuste, Temer concedia aumentos a castas do funcionalismo, para saltar da interinidade à efetividade presidencial.

Agora, em 2017, o Brasil passou a operar com défcitis mensais na casa dos R$ 20 bilhões — mais do que Dilma fez em todo o ano de 2014, provocando tanta histeria. Os rombos de Temer foram fruto não apenas da inexistência de qualquer ajuste fiscal, mas sobretudo porque a gestão de Henrique Meirelles, incapaz de ligar os motores do crescimento, aprofundou a depressão econômica — em dois anos, as receitas federais caíram cerca de 10%, com a paralisação total da atividade econômica.

Ao mais que dobrar os impostos sobre a gasolina, o governo revela seu fracasso em equilibrar as contas

Agora, com a decisão de mais do que dobrar os impostos sobre os combustíveis, a mentira simplesmente caiu por terra. O Brasil rodou, rodou, matou sua democracia sob a alegação de descalabros fiscais e produziu rombos orçamentários muito mais profundos. Mais uma vez, ficou claro que receitas de austeridade burra, já testadas sem sucesso no passado, levam ao fracasso.

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Deprimem a atividade econômica, reduzem as receitas orçamentárias e causam necessidades de novos cortes, num círculo vicioso sem fim.

O fato é que o Brasil estaria bem melhor se Dilma não tivesse sido sabotada pelas forças que promoveram sua deposição vergonhosa. Com o choque tributário de Temer, não é difícil saber quem vai pagar a conta. Você, é claro.


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