COMOÇÃO Japoneses assistem, atônitos, ao anúncio em cadeia nacional de Akihito
COMOÇÃO Japoneses assistem, atônitos, ao anúncio em cadeia nacional de Akihito

Em cadeia nacional de TV, na segunda-feira 8 o Japão assistiu mesmerizado ao raríssimo pronunciamento de um senhor, vestido socialmente com cores sóbrias. Falando pausadamente, mostrava olhar cansado, mas modos solenes. Era o imperador do país, Akihito, de 82 anos, que se dirigia à nação para manifestar seu desejo de aposentadoria. A mensagem não foi passada abertamente, mas nas entrelinhas. Como a Constituição nipônica proíbe declarações políticas do monarca e a abdicação demanda mudanças na lei, Akihito precisou se expressar de forma velada. Na prática, disse que está mais difícil cumprir obrigações e defendeu a mudança das regras que o forçam a exercer o cargo até a morte. O soberano tem saúde frágil. Sofre de osteoporose, desenvolveu câncer de próstata em 2003 e se submeteu a uma operação cardíaca em 2012. “Gostaria de falar com vocês sobre o papel do imperador quando ele alcança idade avançada”, afirmou Akihito. “Eu considero que minha saúde está declinando, e receio que possa ser difícil para mim efetuar plenamente meus deveres de símbolo do estado, como tenho feito até agora.”

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As normas japonesas não preveem a renúncia do monarca, podendo ele se afastar das funções apenas em caso de incapacidade física ou mental. Mesmo assim ele continua oficialmente no trono, o que Akihito parece considerar enorme sofrimento pessoal e trauma muito grande para o país. Não será fácil levar as mudanças adiante, porém. Os conservadores nipônicos são contrários à medida porque temem que debates sobre abdicação possam evoluir para reformas mais profundas na estrutura da família real (como a coroação de mulheres, hoje proibida). Também consideram que a discussão possa afastar a nação da prioridade nacionalista: a mudança do pacifismo japonês imposto pelos Estados Unidos depois do fim da 2ª Guerra Mundial, que eles veem como uma lembrança humilhante de sua derrota. O primeiro-ministro Shinzo Abe precisará se equilibrar entre o apoio à monarquia e as demandas de sua base tradicionalista. “Considerando a idade dele e a situação na qual trabalha, acredito que precisamos pensar seriamente no que podemos fazer”, disse Abe.

SUCESSÃO

Se o imperador sair de cena, quem assume é seu filho mais velho, Naruhito, 56 anos. No entanto, sua jornada poderá ser mais difícil que a do pai, visto que o príncipe acumula problemas familiares intimamente conectados à sucessão.

Anos atrás, sua filha, Aiko, 14, era a única herdeira da coroa e suscitou um debate sobre a admissibilidade de meninas no posto. Em 2006, o nascimento de um sobrinho, Hisahito, reescreveu a linha de sucessão e enterrou o assunto. Somado a isso, a saúde da mulher de Naruhito, a ex-diplomata Masako, é considerada uma preocupação nacional. Ela sofre de problemas emocionais decorrentes das regras rígidas da família imperial, mas seu estado piorou após a forte pressão para dar à luz um menino. “As pessoas consideram complicado que a mulher do imperador não tenha condições de trabalhar ao lado dele”, afirma o cientista político Koichi Mori, professor da Universidade de São Paulo e pesquisador do Ministério da Educação e Ciência do Japão. Se Akihito abdicar, sairá com a cabeça erguida, pois 87% da população apoia seu desejo.