Após um jantar com Jerry Seinfeld, em 2015, Hugh Jackman decidiu aposentar o personagem Logan/Wolverine. Curioso sobre o fim da série “Seinfeld” (1989-1998), Jackman perguntou ao humorista quando ele percebeu que era hora de parar. “Imploraram para que ele estendesse a série, por pelo menos mais um ano”, disse Jackman, sem revelar o “salário insano” que a rede NBC chegou a oferecer ao amigo. “Seinfeld preferiu não deixar o seu tanque criativo esvaziar, por acreditar que depois disso seria uma tarefa de Hércules colocá-lo em movimento de novo. Entendi que eu não só deveria sair de cena no auge, mas também encerrar a carreira do personagem antes que ele me esgotasse.’’

Foi exatamente o que o ator australiano fez. “Logan”, que estreia nas telas brasileiras em 2 de março, marca a sua última performance como o super-herói com garras retráteis e poder de autocura. Jackman escolheu também o tom para a despedida do mutante que ele viveu pela primeira vez em 2000: mais dramático, realista, violento e adulto. Nos EUA, recebeu classificação para maiores de 18 anos.

Demônios

“Sentia que ainda não tinha desenvolvido todo o potencial de Logan. Devia ao personagem, aos fãs e a mim mesmo, um filme mais denso, em que vemos o herói no seu dia-a-dia, convivendo com os seus demônios, sem que ele esteja necessariamente tentando salvar o mundo. Acho que só conhecemos o soldado de verdade quando ele não está no campo de batalha”, afirma o ator de 48 anos.

Projetado pela primeira vez na 67ª edição do Festival de Cinema de Berlim, “Logan” apresenta um herói envelhecido e desiludido com o rumo que o mundo tomou. A história é ambientada em 2029, quando os mutantes estão em vias de extinção. Isolado, na fronteira com o México, ele ganha a vida como motorista de limusine e cuida do doente professor Charles Xavier (Patrick Stewart). “Usamos a questão da fronteira tanto no sentido literal, por separar povos, quanto no figurado, por representar o nosso medo de intimidade. Estamos mesmo abertos ou bloqueamos os outros em nossa vida? Acredito ser a pergunta que todos nós devemos nos fazer.’’

Logan sai de cena de um modo mais humano e, ao mesmo tempo, brutal, fugindo do padrão “para toda a família” dos filmes de heróis dos quadrinhos estabelecido por Hollywood. “É a redenção de um homem que carrega a culpa pelas mortes que traz nas costas”, afirmou Jackman. Segundo ele, “Deadpool” (2016) ajudou a abrir caminho para “Logan”, pela abordagem mais subversiva do herói — foi o primeiro filme do gênero que, mesmo restrito a maiores de 18 anos, fez sucesso no mundo todo, arrecadando US$ 783 milhões. Mas nem por isso Jackman vai ceder à insistência de Ryan Reynolds para que eles façam uma parceria de Logan-Deadpool nas telas. “Ryan não gostou de ouvir não. Mas o destino de Logan já foi traçado. Não tem volta’’.

22

ENTREVISTA
Hugh Jackman

“Estou mais perto da pessoa que quero ser”

Foi difícil escolher o melhor fim para Logan, considerando a expectativa invencível dos heróis?

Quando James Mangold (diretor e roteirista) começou a escrever a trama, não tínhamos certeza. O filme que nos inspirou foi “Os Imperdoáveis” (1992), com Clint Eastwood. Na última cena, quando o personagem Will Munny vai embora, é mais impactante do que se ele morresse. Acho que ele até preferia morrer. No caso de Logan, precisávamos de algo que fizesse sentido pelo drama que ele enfrenta, de viver uma vida que nunca termina.

Como convenceu a Fox a aposentá-lo como Logan?

Procurei o estúdio e deixei claro que este seria o filme que eu queria fazer. Se eles não aceitassem o adeus de Logan, eu não interpretaria mais o personagem. E eu não estava blefando (risos).

Após o câncer de pele, não pensou em fugir do sol da Austrália?

Não. O meu câncer é decorrência de uma exposição de mais de 25 ou 30 anos. Quando era garoto, como ninguém imaginava as consequências, não usávamos protetor solar. Eu me queimava e descascava todo no verão. Tomando cuidado, dá para controlar isso hoje.

Seus filhos pensam em seguir os seus passos no cinema?

Minha filha, de 11 anos, fala que quer ser atriz. Mas também poderia ser chef de cozinha, veterinária, cantora, dançarina…
Já meu filho de 16 anos prefere as artes visuais. Ele odeia a atenção que eu recebo. Quando saímos juntos, ele pede que eu use um moletom com capuz e ande uns 5 metros à frente dele (risos).