Renato Russo, o líder da Legião Urbana, a maior banda dos anos 1980 e 1990 no Brasil, já havia morrido há três anos quando Leonardo da Silva Porto nasceu. Isso não impediu o adolescente de tatuar, aos 15, no braço direito, o nome de seu grupo favorito. Atualmente, ele é integrante do “Filhos Da Revolução”, um dos doze fã clubes oficiais do vocalista brasiliense, morto aos 37, vítima de Aids. “Ele compôs músicas para todos os momentos das nossas vidas”, diz Leonardo. “O Renato não gostava do mundo em que ele vivia e, se estivesse vivo, também não estaria satisfeito, assim como eu não estou.” Leonardo não é o único representante da novíssima geração a cultuar o ídolo que se foi há 20 anos. Há uma legião de adolescentes que veneram as composições de Russo e companhia, ao lado de adultos de até 50 anos que enfrentaram as oscilações emocionais da adolescência e da juventude embalados pelas canções do grupo. Mas o que há de especial em Renato Russo que faltou em outros artistas de sua época, como Cazuza (1958-1990), para aumentar seus seguidores mesmo depois de sua morte?

Com mensagens bem elaboradas e canções fáceis, de três ou quatro
acordes, as músicas da Legião Urbana seguem conquistando gerações

Sucesso nas redes sociais

Aos 19 anos, Gabriel Siqueira tenta explicar o segredo do vocalista da Legião, que se mantém como um dos maiores ídolos da música pop brasileira, a ponto de seus álbuns continuarem no ranking dos mais vendidos e de uma série de homenagens terem sido preparadas por conta dos vinte anos de sua morte, completados na terça-feira 11 (leia quadro). Renato, afirma o estudante, consegue descrever seus sentimentos em todas as fases de sua vida. “Eu me sinto representado na letra. É como se ele me conhecesse e a mensagem das canções continuasse atual.” Rogério dos Santos, presidente do fã clube “Legião Urbana Infinito”, atesta o fenômeno e diz que cada vez mais meninos de 14 e 15 anos se filiam ao grupo. “A nova geração enxerga no legado de Renato uma esperança”, afirma. “E os jovens sabem tudo sobre ele, mesmo sem nunca tê-lo visto pessoalmente, como eu vi.”

Uma das características das composições da Legião Urbana era sua temática política e social. Em sintonia com grande parte dos jovens, que começaram a organizar manifestações e sair às ruas em 2013, suas canções-protesto são consideradas mais atuais do que nunca. “Que país é este” (1978), feita durante a ditadura militar e na época em que Renato fazia parte do grupo “Aborto Elétrico”, é tão atual quanto há 38 anos. Insistentemente, o verso “ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação” é publicado e compartilhado nas redes. “Os jovens buscam bandas que refletem a sua maneira de sentir, pensar e de ter esperança”, diz Miguel Perosa, professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “A mensagem de Renato é atual e traduz esses pensamentos.”

Como revela a sua trajetória, apresentada em livros, filmes e contada pelos fãs mais velhos, o líder da Legião não é apenas um poeta. Ele é um porta-voz de gerações, principalmente na relação dos jovens com o mundo, com a sociedade e com o universo político. “A mensagem de Renato Russo para os jovens é muito bem elaborada”, diz o produto musical Carlos Eduardo Miranda. “Ele passa a imagem de alguém confiável, que fala dos dilemas que todos vivem, por meio de uma mensagem completa.” Segundo Miranda, atualmente o diálogo na música está muito restrito. Outra vantagem da Legião são suas canções fáceis, de três ou quatro acordes, muito simples de tocar, como o próprio vocalista costumava dizer. Isso estimula amadores a se arriscarem no violão.

O líder da Legião não gostava quando a banda era comparada a uma espécie de seita. Mas, mesmo a contragosto, ele teve um toque messiânico impresso em sua persona artística. Para esses adolescentes que ouvem incansavelmente os álbuns do grupo brasiliense e vão a shows com vocalistas convidados, Renato não morreu. Enquanto sua mensagem representar o apelo dos jovens, ele continuará vivo por gerações.

Túnel do tempo
Após 20 anos de sua morte, Renato Russo e a Legião Urbana se mantém entre os discos mais vendidos do Brasil

16 álbuns é a quantidade que a Legião Urbana gravou

9 discos foram lançados apenas por Renato Russo

8 livros é o número de publicações sobre Renato Russo

3 filmes e 4 peças de teatro estrearam sobre a vida de Renato Russo e suas músicas

25 milhões de discos da Leigião Urbana foram vendidos

SUCESSO: Entre 1982 e 1996, a Legião Urbana lotou casas de shows e vendeu milhões de discos
SUCESSO: Entre 1982 e 1996, a Legião Urbana lotou casas de shows e vendeu milhões de discos

Renato para sempre
Para celebrar os 20 anos de sua morte, eventos e publicações inéditas foram preparados

Musical
Sucesso nos 10 anos de sua morte, “Renato Russo, o musical” com o ator Bruce Gomlevsky está de volta ao Teatro NET Rio

Exposição
No ano que vem, o Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo reunirá um acervo com manuscritos, diários, livros, esculturas, quadros, desenhos, fotos, instrumentos e roupas

Filme
René Sampaio, diretor de “Faroeste Caboclo”, vai adaptar para o cinema mais uma letra de Renato Russo. Em outubro, começa a produção de “Eduardo e Mônica”

Disco-tributo
No dia 11 de outubro, foi lançado o álbum “Viva Renato Russo 20 anos”, só com bandas da nova geração do rock brasileiro

Relançamentos
No dia 28, será lançada uma caixa com cinco álbuns solo que Renato gravou pela Universal Music

Biografia e livro
O biógrafo Carlos Marcelo reescreveu “Renato Russo, o filho da revolução”, lançada em 2009. A publicação voltou às livrarias em sua primeira edição revista e ampliada. No dia 7, saiu “The 2nd St. Band: romance de uma banda imaginária”, uma ficção escrita na adolescência pelo cantor

No teatro
Bruce Gomlevsky está criando um monólogo baseado em “Só por hoje e para sempre”, um diário sobre o tempo em que Renato passou numa clínica de reabilitação para tratar do vício em drogas

Fotos: Felipe Gabriel; César Itiberê/Folhapress