Em latim, Post-Quercus significa “depois do carvalho”. Esse é o nome que o casal Filipa Pato e William Wouters deu a um tinto produzido em pequena escala (apenas 3,5 mil litros por ano) com uvas da casta baga, típica da região da Bairrada, em Portugal. O rótulo é o mais novo representante no Brasil de uma tendência que vem empolgando o mundo do vinho: a agricultura biodinâmica. Sistematizada na década de 1920 pelo alemão Rudolf Steiner, conhecido como criador da antroposofia, a técnica se baseia no uso de elementos da natureza para potencializar a energia do solo e o desenvolvimento das plantas.

HOMEOPATIA

Para que as frutas, legumes e verduras forneçam o máximo de nutrientes, além de aroma e sabor, os produtores biodinâmicos fazem seus próprios fertilizantes usando fórmulas que seguem um princípio semelhante ao da homeopatia: a dinamização. Ela extrai o princípio ativo dos ingredientes e permite aplicá-los em baixas dosagens, o que torna todo o processo mais saudável. Mas não são só o adubo e os defensivos que mudam.

As ânforas onde os vinhos estagiam
As ânforas onde os vinhos estagiam

No vinhedo, animais ajudam a manter as parreiras livres de ervas daninhas, enquanto flores sinalizam quanto ao risco de pragas. As podas e a colheita seguem os ciclos lunares, que também dita o momento de engarrafar a bebida.

Durante a vinificação, as uvas fermentam em ânforas de argila. Até as tradicionais barricas de carvalho onde os vinhos refinados costumam envelhecer deram lugar ao barro — o que explica o nome Post-Quercus. O resultado tem agradado a crítica internacional: a safra 2015 recebeu 90 pontos do rigoroso crítico Robert Parker.

Embora adepta da biodinâmica, Filipa não é uma “pregadora”. Ela sequer faz alusão à técnica em em seus rótulos.

“Valorizamos a ética e o respeito à terra, mas não desejamos que os vinhos sejam reconhecidos apenas por essa característica”, afirma a enóloga. Segundo ela, a biodinâmica resgata princípios que eram usados no passado, ao mesmo tempo em que permite elaborar “vinhos sem maquiagem”, como ela busca.

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O fato de não fazer alarde da técnica se justifica. Em parte porque esse método ainda é visto com alguma desconfiança no conservador mercado global de vinhos. Também porque é mesmo difícil entender como a coisa funciona e de que forma ela aperfeiçoa o resultado do que chega ao nariz e à boca dos apreciadores. Mas, assim como Filipa, pequenos e grandes produtores, inclusive no Brasil, vêm aderindo à biodinâmica. Só o tempo poderá dizer se essa é a nova era do vinho — ou apenas o “vinho da nova era”.

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