ACHADO Pesquisadores em sítio arqueológico de pista onde eram feitas corridas de carruagem, na Tunísia (acima). Esporte inspirou cena clássica do filme Ben-Hur, de 1959 (topo)
ACHADO Pesquisadores em sítio arqueológico de pista onde eram feitas corridas de carruagem, na Tunísia (acima). Esporte inspirou cena clássica do filme Ben-Hur, de 1959 (topo) (Crédito:RALF BOCKMANN)

“A corrida não acabou.” Assim declarou Messala, vilão de Ben-Hur, no épico filme de 1959. Fracassado em vencer o herói nas pistas, ele se vingou antes de morrer, à sua maneira sádica, com uma revelação bombástica: a de que a família do protagonista estava com lepra. Provas de carruagens, como a disputada por Messala e Ben-Hur numa das mais marcantes cenas cinema, estão sendo revividas graças a uma escavação arqueológica nas ruínas de uma das maiores arenas da antiguidade, o Circo de Cartago (hoje Tunísia). Os pesquisadores estão descobrindo segredos há muito escondidos, entre eles o modo como o estádio foi construído (sobre uma tumba monumental), sua verdadeira idade (mais de 1800 anos) e seus recursos tecnológicos (contava com espécies de “sprinklers” que borrifavam água para resfriar os cavalos no calor escaldante do norte da África). “A corrida de carruagens foi um dos esportes mais populares da história humana”, disse à ISTOÉ Ralf Bockmann, diretor da expedição. “As massas foram às disputas por milhares de anos, a história do futebol é muito menor.”

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Com a pesquisa, Bockmann e sua equipe buscam outros indícios que aproximam as corridas de carruagens dos esportes modernos. Ao fim da expedição, eles serão capazes de reconstruir o estádio em detalhes. “Nós queremos demonstrar como o circo era integrado à cidade e influenciava seus arredores, da mesma forma que as arenas modernas ainda o fazem”, afirma.

As descobertas ajudarão a reconstruir o dia a dia de um esporte monumental. Por exemplo, os arqueólogos estimaram a capacidade do estádio de Cartago em 70 mil pessoas, a mesma do Maracanã (RJ). Como nos tempos modernos, os atletas também eram celebridades. Nascido onde hoje é Portugal, o piloto Diocles (séc. 2 d.C.) amealhou o equivalente a R$ 50 bilhões. Seu conterrâneo Cristiano Ronaldo, esportista que mais faturou em 2016, ganhou R$ 290 milhões no ano. Como os jogadores de futebol atual, Diocles não tinha “amor à camisa”. Na época existiam quatro times, representados por cores – vermelhos, azuis, verdes e brancos. O corredor defendeu três deles. Cada facção, como eram chamados, possuía torcidas, como as que lotam nossas arenas. Elas faziam festa, mas, às vezes, também trocavam o clamor das arquibancadas pelas brigas de rua.