No festival do Rio, apelo ao entendimento e Rodrigo Santoro no júri

No palco da grande sala do Palácio das Artes, na Barra – transformado em cinema -, a apresentadora Christiane Torloni declarou aberto o Festival do Rio de 2016. No palco, as duas diretoras do evento fizeram discursos complementares. Walkíria Barbosa, diretora da parte de mercado – é quem organiza os seminários -, fez um discurso pró-tolerância. “Se não aprendermos a nos respeitar, em nossa diversidade, as coisas vão ficar ainda mais difíceis.” Ilda Santiago, o diretora artística, falou das parcerias e da alegria de estar entregando à cidade um sonho de cinema – 11 dias, 266 filmes, 30 pontos de exibição.

Uma terceira diretora, Wilma Lustosa, que integra o colegiado organizador, estava eufórica. “São 18 anos. É nossa maioridade.” O 18.º Festival do Rio abriu-se com um filme de um autor que o evento já vem acompanhando há muito tempo, o canadense Denis Villeneuve. Toda a sua obra já foi projetada pelo festival. No telão, o próprio Villeneuve explicou por que não veio ao Brasil. “Seria uma honra, mas estou em plena pré-produção do próximo filme. Minha equipe necessita de mim aqui, mas de coração estou aí. Sempre quis fazer uma ficção científica, mas não encontrava a história. Até que alguém me mostrou essa história curta. Fiquei tão maravilhado que consegui reunir todo mundo rapidamente.”

Doze naves aterrissam em diferentes pontos da Terra. Cria-se uma situação de emergência. Muitos governos querem responder com artilharia pesada. O dos EUA destaca uma linguista e um cientista para tentar o diálogo. Amy Adams e Jeremy Renner. Os ETs são octópedes. Emitem sons indecifráveis. Mas Amy não desiste de se comunicar. Sem diálogo – a mensagem de Walkiria – não há solução. De cara, essa mulher viveu um drama familiar. Com os alienígenas, coloca-se uma questão do tempo, a sua relatividade. E se o futuro for o passado?

A Chegada, chama-se o filme. Levanta questões intrigantes, é muito bem feito. E tem Amy Adams numa atuação digna de Oscar. Também digno de Oscar é o Rhys Ifans de Dominion, de Steven Bernstein. O filme reconstitui a última turnê do poeta Dylan Thomas pelos EUA. Na taverna White Horse, em Nova York, naquele dia de 1953, ele tomou 18 doses duplas de uísque. Entrou em coma, e morreu, vomitando as próprias fezes. De perto, ninguém é normal. Bernstein, também roteirista, não tenta decifrar o mistério. Por que ele bebia tanto, por que se destruiu? Era um sedutor das massas, adorado por sua poesia.

Como se filma a poesia, e a de Dylan Thomas, que é pura sonoridade? Rhys Ifans é genial como o bêbado embriagado no próprio ego. Rodrigo Santoro faz o bartender, Carlos. É seu melhor papel em língua inglesa, e difícil. Rodrigo recita Shakespeare, T.S. Eliot. Dança um tango inesquecível. O ano está sendo glorioso para ele – a novela Velho Chico, Ben-Hur, Westworld, Dominion, todos saindo ao mesmo tempo. E ele é jurado no Rio. E tudo é produto de trabalho, dedicação. Ele bate três vezes na madeira. Quem venham outros anos assim.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.