A ntes tida como inegociável, a reforma da Previdência proposta pela equipe do ministro Henrique Meirelles subiu no telhado. Está desfigurada e, se ainda vier a ser aprovada, terá perdas estimadas em R$ 115 bilhões nos próximos dez anos.

A explicação para esse fracasso é óbvia: ao contrário de Michel Temer, que chegou ao poder sem voto, todos os parlamentares que votarão a reforma previdenciária precisarão de apoio dos eleitores em 2018 para permanecer no Congresso. E poucos podem se dar ao luxo de abrir mão de seus mandatos – especialmente aqueles que precisam do foro privilegiado.
Dá para imaginar um deputado ou senador pedindo voto depois de acabar com aposentadorias rurais, aprovar 49 anos de contribuição e fixar idade mínima de 65 anos para as mulheres? Improvável. Pela lógica da sobrevivência, seria fácil prever que poucos decidiriam cometer suicídio político em nome da “ponte para o futuro” de Temer.

Foi nesse contexto que se deu a briga pública entre o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do PMDB no Senado, e o Palácio do Planalto. Renan criticou publicamente a reforma da Previdência e a terceirização irrestrita, mas seus movimentos têm ainda uma outra motivação. Em Alagoas, onde o governador Renan Filho buscará a reeleição em 2018, nada menos que 90% dos eleitores rejeitam Temer – um quadro que se repete em praticamente todos os estados do Norte e Nordeste. Ou seja: a ruptura pública abre um espaço político para o senador, ainda que ele tenha sido um dos responsáveis pela ascensão de Michel Temer ao poder.

O Congresso resiste à reforma da Previdência por uma razão óbvia: ao contrário de Temer, os parlamentares precisarão
de votos em 2018

Nas próximas semanas, a tendência é que haja novas deserções na base governista. Quanto mais próxima a eleição, mais distantes estarão os parlamentares de um governo altamente impopular. E quem também começará a fazer as contas será a burguesia nacional, especialmente financeira, que apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em troca de um pacote de reformas que, provavelmente, não será entregue. Tudo isso em meio a julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, que poderá ser retomado ainda no fim de abril, depois de ter sido interrompido para a tomada de novos depoimentos.

Se o impasse brasileiro persistir, poderá prevalecer a posição do ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso, que defendeu eleições diretas em caso de cassação da chapa Dilma-Temer.

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